26 Feb 2024
Ricardo Bastos*
Neste meu espaço desta vez não sou eu quem escreve. É algo escrito por uma extensão de mim mesmo. Obrigado filhota.
“This one is only for my portuguese speaking friends, I’m sorry!
Não sei que idade tinha (talvez 12 ou 13), quando fui com o meu pai (Ricardo Bastos) ao Caracas, antigo nome do Cine-Teatro da minha terra (Oliveira de Azemeis), ver este senhor. Eu já gostava dele, ouvíamos muito no carro, o meu pai tinha vários CDs dele, de Pedro Barroso. Dele e do Victor Jara!
Lembro-me de ouvir finalmente ao vivo aquela voz que eu reconheceria em qualquer lado. Várias músicas e poemas que já conhecia e outros que nem tanto… mas um deles, que eu já tinha ouvido, marcou-me muito pela confusão de emoções que me causou. Fiz questão de memorizar o nome, porque queria voltar a ouvir. E queria voltar a ouvir porque me impressionou e porque me confundiu. Por alguma razão, tive já na altura noção de que ainda não era capaz de perceber o que ele queria dizer com aquilo tudo, mas parecia que já sabia que algum dia ia perceber. Não tínhamos YouTube nesse tempo e eu não sabia a que álbum pertencia, portanto não voltei a poder ouvir durante alguns anos.
Lembro-me de já estar na universidade quando finalmente encontrei o texto na internet, mas sem vídeo. Tive de tentar juntar aquelas palavras à memória que tinha dele a dizê-las. Não me lembro se percebi muito mais na altura, mas hoje faz-me muito sentido. Cerca de 20 anos depois desse concerto em que no final pude falar com ele e dizer-lhe que queria seguir música, ao que ele respondeu “que maravilha! e se gostas de palavras, arranja forma de as meter lá pelo meio também. Espero estar vivo para ouvir falar de ti, Francisca”
Era este o texto! “Estados Unidos da Europa”
O amor à terra sem atraco a fronteiras. É assim que eu o percebo agora. Agora que, embora tendo viajado pouco fora da Europa, já conheci gentes de muitos sítios, cada vez mais claro. Somos quem somos, com potencial para melhorar ou piorar mas não somos melhores ou piores que ninguém. Orgulho em ser português, sim, nacionalismo não!
As atrocidades que as fronteiras nos têm permitido ao longo de centenas de anos são uma aberração. As guerras, colonialismo, racismo. Tudo baseado no sentimento de que eu e o meu têm mais valor que o outros o dos outros. A minha terra, a minha religião, a minha maneira de ver o mundo.
Achar que temos mais direito que os outros ao nosso país é uma aberração, assim como foi aberração acharmos que tínhamos direito aos países dos outros. Um país que tem tantos dos seus pelo estrangeiro, não pode ser hipócrita quando lida com os estrangeiros dentro das suas fronteiras.
Vêm aí eleições… pensemos um bocadinho!
Francisca Bastos”
* Organizador das ‘Corridas Solidárias’