7 Mar 2022
Helena Terra *
Eu estou de luto porque perdi um amigo, um homem credor de todo o meu respeito e, para mim, uma referência em muitas grandes e pequenas coisas, todas de grande valor.
Oliveira de Azeméis porque perdeu um dos seus grandes vultos na área do ensino de várias gerações, um brilhante arquiteto, alguém que lutava pelas causas em que acreditava e que um dia tentou cumprir o sonho e o apelo de muitos de tentar mudar Oliveira de Azeméis, um cidadão pleno, um homem que, pelos outros, fazia acontecer e, não lhe tendo sido dada a oportunidade de mudar a vida de todos, conseguiu mudar a vida de muitos que, sem a sua obra e esforço abnegado, teriam perecido à mingua e, na maioria dos casos, muitos anos antes do que veio a acontecer.
O Senhor Arquiteto Gaspar, ainda era professor na minha Ferreira de Castro, (para a minha geração será sempre o liceu), mas com pena minha por o não ter conhecido nessa qualidade e sorte a dele porque nunca ter ficado horrorizado com um qualquer dos meus traços, que mais não eram que meros riscos sem qualquer sentido alinhamento ou outra qualidade qualquer, mas apenas produtos de duas mãos e também um cérebro canhoto para essas artes. Todavia, sei que ele criou enquanto professor alguns vultos na área das artes e das engenharias e este é o testemunho de muitos que conheço.
Em 1989 foi candidato a presidente de Câmara pelo partido socialista tendo obtido 33,54% dos votos, com uma enorme subida relativamente aos resultados da eleição anterior e tendo eleito tantos vereadores como o seu mais direto adversário do PSD, cada um deles 3 dos 7, sendo o sétimo eleito pelo CDS. Esta candidatura foi a candidatura que podia ter marcado o ponto de viragem no nosso concelho. Afinal tínhamos já aderido à então CEE e esta era a altura para termos um presidente de câmara visionário capaz de projetar o futuro, de organizar o nosso território e de aproveitar o dinheiro dos impostos pagos pelos outros europeus que iam chegar. Podia ter sido aqui o inicio de uma história completamente diferente da que hoje temos para contar. A Democracia funcionou e elegeu como presidente apenas um bom homem e, por favor, não me interpretem mal.
Em 1993 foi candidato, como cabeça-de lista à Assembleia municipal pelo PS de Oliveira de Azeméis e ficou a escassos 46 votos de diferença do vencedor. Este foi, na minha opinião o homem que podia ter mudado o rumo da nossa história e, na altura própria para agarrar o futuro que hoje teríamos, no presente, como herança. Mas a história não se muda e, normalmente o seu tempo é demasiado longo para se poder recuperar.
Grande humanista que sempre foi, deixou na Santa Casa de Misericórdia de Oliveira de Azeméis a obra que é do conhecimento público e, além disso, foi também seu provedor entre 21.12.1987 a 13.01.2012, mais de 24 anos.
Este Senhor perdura, nas suas múltiplas obras, mas como já ultrapassei o meu espaço de escrita deixo, como exemplo, a parte inicial do Hotel Dighton, projetado por si, nos anos 70, que, desde então se tornou um ícone da arquitetura ibérica por ser dotado de um restaurante com chão rotativo e vista de 360º.
Deixa-nos o coração enlutado, mas a cabeça erguida porque nos honrou deixando obra e história.
* advogada