20 Nov 2025
> FERREIRA DE CASTRO – 100 ANOS DE “EMIGRANTES” E DE “A SELVA”
Aproximam-se duas datas marcantes para a literatura: 2028 e 2030 - datas que estão na memória coletiva dos oliveirenses como as datas em que se comemoram os 100 anos da publicação dos romances “Emigrantes” e “A Selva”, de Ferreira de Castro.
As efemérides não são tanto uma maneira de relembrar um evento ou uma personalidade como são a forma de testar a fibra de quem as comemora. Porque se existe evento e personalidade marcante que deve honrar todos os oliveirenses, esse evento e essa personalidade são a publicação dos referidos romances bem como a figura do escritor universal.
Em 2028, fará 100 anos que Ferreira de Castro deu à estampa “Emigrantes”, romance que, não tendo passado despercebido em Portugal, foram os autores brasileiros que aguerridamente o polemizaram, pois que, na opinião de alguns, punha em causa sua a capacidade de receber e tratar condignamente os emigrantes que vinham da Europa.
Ferreira de Castro, que se confessou “emigrante vencido” (lembremos que rumou ao Brasil em 1911), condensava numa obra-prima as ansiedades, as frustrações e os desvarios (também os seus) de todos os emigrantes, e denunciava simultaneamente a “sociedade mal organizada” que explorava “os rebanhos de párias” que não encontravam pão nem justiça em lugar nenhum do mundo. O tema social da servidão/opressão/exploração laboral será revisitado em “A Selva”. Mas a par do tratamento sociológico, é a capacidade que o romancista possui de nos transpor para dentro dos romances: de nos fazer sentir o aroma do café no cafezal ou o dorido lamento nas canções dos trabalhadores ao pôr-do-sol (“Emigrantes”); de nos fazer sentir os odores extasiantes e húmidos da selva ou viver as terríveis privações e fobias (dos animais, dos índios, de si próprios) que a toda a hora os ensandecia (“A Selva”).
Antes ainda de haver Steinbeck, Camus, Orwell, Malraux, Guimarães Rosa, Sartre ou os neorrealistas portugueses (Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca), já Ferreira de Castro nos propunha uma profundíssima reflexão sobre a justiça social e a capacidade de nos repensarmos: individualmente, como singularíssimos e frágeis seres humanos; coletivamente: como seres de universal fraternidade.
Estaremos nós à altura do desafio?
José Carlos Soares, professor na EBS Ferreira de Castro e associado do CEFC-Centro de Estudos Ferreira de Castro