25 Jul 2023
Carlos Costa Gomes *
A ética e a felicidade são duas palavras que articulam em perfeita euritmia. A congruência entre uma e outra é assinalada por Aristóteles: “Ética e felicidade estão diretamente ligadas ao uso da razão, na medida em que a felicidade é a finalidade da ética”.
Utilizamos o termo “euritmia” para afirmar que a ética e felicidade, juntas, são a justa proporcionalidade entre as partes de um todo e nelas habita um ritmo harmonioso como que se de uma grande sinfonia se tratasse, cujo maestro é o ser humano. Assim, deste modo, o ser humano é o arquiteto da ética e da felicidade e, como arquiteto, o ser humano, enquanto a pessoa, tem a capacidade de aprender e apreender a “composição da euritmia” que liga a melodia (felicidade) e a partitura (ética) numa simbiose perfeita. A melodia está à altura da partitura e a partitura está em relação com a intensidade da melodia. Afirmamos, em concordância com Aristóteles, que ética e felicidade andam juntas e em perfeita euritmia.
Segundo Aristóteles, e numa definição simples, a ética procura a realização do bem e agir enquanto tal. A pessoa, dotada de razão, tem a capacidade de realizar as suas escolhas, é capaz de perceber as suas ações e orientá-las para o bem e o bem supremo é a felicidade. Assim, a felicidade é a finalidade da vida humana.
A felicidade é a justa medida do uso da “razão e da emoção”. É aquela capacidade que aspira a um “coração inteligente” e não a uma “inteligência sem coração”; é a adequação justa entre bens materiais e os bens intelectuais. Isto é, uma vida bem-sucedida e não uma vida de sucesso. O sucesso cria momentos felizes, mas não bastam os momentos que nos dão prazer, para ter uma vida feliz.
A felicidade exige a capacidade de mesuramento. Significa que são necessárias a ponderação e a prudência nas ações e nos atos que realizamos. Ponderação na avaliação dos valores que estão presentes numa certa determinada situação em que nos encontramos e a prudência para escolher a ação correta. Pois, se a ética tem como finalidade a felicidade, então devemos colocar a pergunta: qual a ação certa a realizar numa situação em que estou envolvido para realizar o bem? Aristóteles, ajuda-nos a encontrar esta resposta a partir da capacidade e autodomínio da razão uma vez que é na razão que se encontram as disposições fundamentais de sermos sensatos ou corajosos, disposições estas que nos devemos permitir escutar e obedecer. Então a capacidade da razão é, em certo sentido, um pai que devemos escutar para alcançar a excelência que a ética procura nas nossas ações. Quem age eticamente procura sempre não o bem maior, mas o bem melhor. A ética é então a viagem para sermos felizes, como refere Aristóteles, para alcançar o bem supremo – a eudaimonia - a felicidade; e como alude Kant, um dever moral universal para sermos dignos de ser felizes.
De facto, a ética é a razão da nossa felicidade; a felicidade é a forma ética mais elevada de sermos livres.
*Prof. Doutor, Presidente da Assembleia de Freguesia de Cesar