17 May 2022
Helena Terra *
Há uns anos, quando eu era adolescente, o festival Eurovisão da canção era vivido como um acontecimento importante, muito importante da história anual da TV nacional, deixando-nos pregados ao ecrã.
Sempre participámos com melhores ou piores canções, mas não me lembro de nenhum festival Eurovisão da canção que não fosse envolto numa qualquer polémica. A transversal era a de que, a maioria de nós achava que toda aquela encenação e glamour, no fim, julgava tudo menos as participações dos concorrentes, das canções, das letras e das músicas.
A outra particularidade era a de que, normalmente, nós dávamos boas classificações aos nuestros hermanos espanhóis e estes, por sua vez, ignoravam olimpicamente a nossa existência, premiando-nos com zero pontos, tal como fizeram este ano.
Apesar disso, foi a Eurovisão que nos revelou grandes valores musicais como os ABBA, Johnny Logan, Céline Dion, e, porque não, Salvador Sobral. Curiosidades a este propósito, a França foi o país que mais vezes ganhou o festival Eurovisão da canção, sete vezes, seguido dos Países Baixos que ganhou cinco vezes o mesmo concurso.
No festival nacional da Ucrânia não foram os Kalush Orchestra – com “Stefania” que ganharam o concurso mas sim ‘The Shadow of our Ancestors’, de Alina Pash , mas, ao que parece, Alina Pash, já depois de 2014, esteve ilegalmente em território da Crimeia e, por isso, foi impedida de representar a Ucrânia.
Neste festival da eurovisão houve dois aspetos que resultaram claros.
Por um lado, a europa escolheu uma posição geopolítica, “glorificou” a Ucrânia, deixando a Rússia isolada, cada vez mais só. O velho continente tem que se renovar e adotar regras diferentes de governação da União, nelas se incluindo, eventualmente a existência de um exército comum, é o que penso.
Por outro lado, os dois últimos classificados foram a Alemanha e a França, o que pode querer significar que os dois grandes da União têm que repensar posições se querem manter a União que é cada vez mais necessária.
Por fim, note-se que a tradição ainda é o que era. O júri português atribuiu 10 pontos à nossa vizinha Espanha que apresentou 3 bailarinas e 3 bailarinos, qual deles o melhor. Era animado, esteticamente bonito, sem dúvida, festivaleiro, segundo alguns… A Espanha, para manter a tradição brindou-nos com a total ignorância dos habituais zero pontos… Mas, esperem, eles gostavam de perceber a letra e não conseguem entender português, mesmo uma parte tendo sido cantada em Inglês e os espanhóis serem, como sabemos, fluentes em várias línguas – castelhano, galego, catalão…
Será que isto ainda é o trauma de Olivença?
* advogada