Falta educação…

Helena Terra

Helena Terra *

Quando em 1995 foi eleito como primeiro-ministro, António Guterres elegeu a educação como a sua paixão e a aposta central da sua governação.  Ao tempo, dizia que Portugal só vencerá o “atraso estrutural” se der “prioridade absoluta” à educação, à ciência e à cultura. Além disso, Guterres manifestou-se favorável a uma “cultura de exigência e de responsabilidade” na educação, mas alertou para os perigos da “cultura de competição”. “Gerar uma cultura de competição na Educação pode ser perigoso porque, como sociedade, só somos eficazes quando cooperarmos uns com os outros”. Foi na sua governação que foi feita a grande aposta no pré-escolar com o objetivo principal de socializar as crianças, preparando-as para o percurso escolar seguinte.

Depois disso, continuou a mesma aposta com a introdução do ensino do inglês logo no primeiro ciclo do ensino básico e a iniciação das ferramentas informáticas. O objetivo tido em vista era o da sociedade do conhecimento como a única forma de combater o défice comparativo de que Portugal padecia em relação aos nossos parceiros europeus.

Em 2012, foi introduzida a obrigatoriedade de exames finais no 4º e 6º ano de escolaridade, após reforço da componente horária do ensino do português e da matemática e o reforço da componente do estudo acompanhado.

Em 2015, legislou-se para acabar com a violência destes exames que, em 2016 já não se realizaram. 

Entretanto, os estudos internacionais vindos a público, quer no relatório de PISA de 2023, quer no relatório do TIMSS, mostram uma descida nas capacidades dos alunos dos países da OCDE. Segundo o relatório de PISA 2023, um em cada quatro jovens de 15 anos tem um fraco desempenho em matemática, leitura e ciências, podendo não conseguir utilizar algoritmos básicos ou interpretar textos simples. No nosso país, os alunos revelaram uma redução no desempenho no que diz respeito à matemática de 20,6 pontos em relação a 2018 e três em cada dez não alcançaram o nível mínimo satisfatório. Quanto à leitura, os alunos portugueses registaram uma queda de 15,2 pontos em relação a 2018. Analisando os resultados do relatório TIMSS, Portugal passou do 20º lugar em 2019, para o 26º em 2023, na comparação dos países da OCDE. 

Da análise destes resultados há quem atribua as culpas à pandemia que já nos habituou a “ter as costas largas”, mas especialistas em educação atribuem estes resultados a uma certa cultura de facilitismo a que alguns resolveram chamar de felicidade. Se escalonarmos a análise por níveis de desempenho, em baixo, intermédio, elevado e avançado, é demolidor concluir que de 2019 a 2023, um em cada cinco alunos não atingiu o nível de desempenho baixo. Mas a amargura é, ainda maior, quando percebemos que destes alunos, os que têm um estatuto socioeconómico mais baixo são os mais penalizados no desempenho. Sem igualdade de oportunidades, é o socialismo que alguns apregoam que está em causa, é a dita economia do conhecimento que não se concretiza. Em maio de 2012, numa entrevista ao Expresso, Mário Soares disse: Tem de haver mais igualdade na educação, mais igualdade entre as pessoas… honremos a sua memória!
 

 * Advogada
 

Partilhar nas redes sociais

Comente Aqui!









Últimas Notícias
Agenda para este sábado, 18 de janeiro
16/01/2025
Já há data para o 17º Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro
16/01/2025
'Mufasa: O Rei Leão' no TeMA
15/01/2025
Centro de Estudos Ferreira de Castro promove 'A Casa de Marreta'
15/01/2025
Instituições do concelho voltam-se a reunir em S. Roque
15/01/2025
AIMA impede Saunders de continuar na Oliveirense
15/01/2025
Criança está desaparecida depois de ter saído da escola
14/01/2025
Trabalhar Para Mudar
14/01/2025