Jovem osselense de 27 anos, andou durante vários dias a combater as chamas com o seu trator, tendo ajudado a salvar casas e terrenos de amigos e vizinhos
O concelho de Oliveira de Azeméis foi assolado, na semana passada, por um dos piores incêndios de que há memória nesta região.
Uma das freguesias afetadas foi a de Ossela. Com vários hectares ardidos durante dias, terrenos perdidos, noites mal dormidas para controlar o que natureza tanta vontade tinha de levar. Mas é nestes momentos que o espírito de solidariedade e altruísmo aparece e a população une-se toda num só objetivo: salvar o que levou vários anos a conquistar.
É nessa onda de solidariedade que surgiu a história de Fernando Tavares. Serralheiro, 27 anos, com a sua companheira há oito anos e pai de filhas gémeas, de apenas dois anos, desde sempre morou em Bustelo de Caima, uma pequena localidade de Ossela, e o espírito de ajudar os outros sempre esteve lá, não tivesse sido ele bombeiro voluntário nos Bombeiros Voluntários de Oliveira de Azeméis durante sete anos, tendo abandonado apenas pela incompatibilidade com a sua vida profissional e familiar, no entanto Fernando referiu que “sempre gostei e quem sabe um dia, posso voltar”.
A bordo do seu trator Lamborghini de 1989, sempre equipado com dois garrafões de 5L de água e um extintor, Fernando revelou à Azeméis TV/FM que inicialmente o objetivo “foi proteger a fábrica[serralharia da família] e a casa. Entretanto passou para outras casas e continuámos”. O osselense afirmou ainda que o fez “por gosto e por ajudar”, e que “se fosse ao contrário, também sabia que iam ajudar”.
Foi com um ar já bastante cansado e depois de vários dias de combate ao incêndio para proteger a sua casa, a sua fábrica e as casas de amigos e vizinhos, que Fernando confirmou o que já demonstrava no seu semblante: “se dormi quatro horas[nos últimos dias] foi muito”.
Questionado se em algum momento sentiu medo durante a situação que estava a viver, Fernando Tavares foi pronto a dar a resposta, afirmando com um assertivo “não”.
A esposa fica “aflita”, mas sabe que “tem que ser”
Quando tudo começou o osselense Fernando Tavares preocupou-se também em proteger a sua companheira e as suas duas filhas. “Estamos juntos há oito anos, e as minhas filhas, que são gêmeas, pedi para elas irem para a casa de um casal amigo. Sabia que elas estavam bem, estavam retiradas um bocadinho do fogo, mas sempre que a minha mulher pôde ajudar, ajudou-me sempre, acompanhou-me sempre. Até ela estava um bocado aflita de eu andar assim, mas tinha que ser”, afirmou o jovem de 27 anos.
Medalha de Mérito Municipal
Após este ato de heroísmo, muitos são os pedidos para que Fernando Tavares seja distinguido com uma medalha de Mérito Municipal, uma condecoração atribuída pelas Câmaras Municipais, que se destina a homenagear publicamente pessoas singulares ou coletivas. Um desses pedidos foi de José Santos, presidente da Junta de Freguesia de Ossela, que à Lusa referiu que “o rapaz merece uma medalha de mérito municipal. Andou horas e horas de trator a assapar o mato, salvou a casa dele, a dos pais e a dos avós, e ainda ajudou muitas outras pessoas em volta, ao apagar o fogo nos terrenos mais próximos”.Questionado pela Azeméis TV/FM sobre a possibilidade de ser condecorado, Fernando mostrou a humildade que o descreve, referindo que “eu não estou à espera de nada. Eu ajudei porque quis, por ser voluntário”, no entanto “se vier é bem-vinda e fico contente”.