27 Jan 2022
> Padre António da Rocha: um património da santidade
O Padre António da Rocha, missionário da Sociedade Missionária da Boa Nova, foi morto há 33 anos, ainda jovem, em Moçambique, no dia 17 de janeiro de 1989. A notícia depressa se espalhou um pouco por todo o mundo e criou um grito de consternação em todo Portugal.
O jovem missionário afirmou em terras africanas: “Eu vim para Moçambique para dar o melhor de mim mesmo”. E deu o que tinha de mais precioso: a vida. Os escassos dois meses que pisou o solo daquele país, quando se dirigia para a localidade que lhe estava reservada, foi vítima de uma embocada pela guerrilha que lhe ceifou vida com um tiro certeiro.
Um antes e um depois
Tudo parecia indicar que a sua missão de evangelizar tinha terminado nesse dia. Mas tal como Jesus, que depois de morto o vazio pairou sobre os seus discípulos, o inesperado aconteceu. Jesus não morreu e a sua mensagem ecoa ainda hoje e o tempo histórico ficou dividido num tempo antes e depois de Cristo. Acreditamos que à imagem de Jesus, o tempo do missionário Padre Rocha, também se divide em dois tempos. Um antes e um depois. E é, precisamente, este tempo segundo que é o primeiro tempo do Padre Rocha.
O seu sangue derramado em solo moçambicano gerou frutos (e de tantos outros missionários). A sua missão não se esgotou no antes, mas se fortaleceu e fortificou depois do tempo vivido. E existem evidencias deste tempo. Cesar é uma dessas evidências. Se o Padre Rocha partiu para Moçambique para missionar, agora são os africanos — e não faltam exemplos no nosso concelho — a missionar os portugueses. Em muitas das nossas paróquias, os padres são de origem de terras africanas e, na minha perspetiva, só pode ser sinal da missão santificadora do missionário que lá deu a sua vida até ao fim.
Os sinais da presença
do Padre António da Rocha
O Padre Rocha não tem túmulo em Cesar. O seu túmulo está vazio, como vazio estava o túmulo de Jesus na manhã da ressurreição. Sim, vazio, mas cheio de sinais da Sua presença. Tal como Jesus, os sinais da presença do Padre António da Rocha são muitos e de muitos modos, como são estas palavras que escrevo nesta manhã de domingo.
Não podemos calar a vida do Padre Rocha que fala calada num silêncio que nunca se calou. Não o ouvimos falar, mas continuamos a escutar as suas palavras e a seguir o seu exemplo de vida. Este é o grande sinal da santidade de um mártir no limiar do século XXI. Apesar de não ter chegado como vida à terra onde iria missionar, a sua vida e a sua missão continua hoje, em todos os lugares onde ele é lembrado como santo de Deus, como aconteceu em Cesar nas missas do passado sábado e de domingo.
Carlos Costa Gomes