28 Jun 2022
Catarina Gomes *
Venho partilhar reflexões acerca da intervenção em Terapia Familiar e o papel que pode ter no fortalecimento das famílias. Sei que é um tipo de intervenção que suscita muitas dúvidas: o que é exatamente? Para que serve? Como se desenvolve?
É um tipo de intervenção já com muitos anos, e, em Portugal, temos nomes como Daniel Sampaio, José Gameiro, Madalena Alarcão, Ana Gomes, entre outros. Pessoas extraordinárias e com um percurso fantástico neste tipo de intervenção.
A Terapia Familiar é um modelo de intervenção terapêutica que engloba uma abordagem sistémica. E o que é isto de abordagem sistémica? Nós, terapeutas, vemos a família como um sistema e tudo o que envolve um indivíduo. A pessoa está inserida na sua família, numa escola, num trabalho, na comunidade… e todos os sistemas se influenciam e interagem entre si. Sim, todos nós temos uma base genética, mas depois temos a nossa história, as nossas experiências. E quando interagimos com alguém, esse alguém tem toda a bagagem da sua história também.
O olhar que a intervenção sistémica nos dá é para a RELAÇÃO. Recebemos uma família que vem porque identifica um desafio. Normalmente a família associa esse desafio a uma pessoa, a um elemento da família. Aquilo em que acreditamos é que a pessoa está a manifestar esse desafio, mas que este está, na realidade, relacionado com a dinâmica da família. Há um elemento da família - a criança ou alguém que se encontra mais fragilizado naquele momento - que manifesta o “sintoma” mas que, no fundo, reflete algo se toda a família/dinâmica familiar.
Terapia é uma palavra que associamos muito à doença, à procura de uma cura. Mas queria que olhassem mais para a Terapia Familiar como algo que está associado a uma mudança, a um progresso. O elemento que traz o “sintoma” é aquele que levanta a bandeira para dizer que ”algo não está bem”. Mesmo que seja a criança a trazer um desafio, nunca é só dela.
Na Terapia Familiar (TF) são convidados a estar presentes todos os elementos que compõem o agregado familiar. E vão encontrar um local neutro e seguro, para o qual vai toda a família, o que vai significar que todos estão disponíveis para encontrar uma solução conjunta. ”Vamos todos e estamos todos disponíveis para encontrar uma solução”. Vamos procurar, em conjunto, ressignificar as palavras e os sentimentos.
É um tipo de intervenção breve e centrada nas soluções. E as duas maiores problemáticas que surgem são: questões de comunicação – espaço em que a família pode partilhar o que se está a passar, o que gostava que fosse diferente, e encontrar soluções para a sua família; e questões emocionais, mais relacionadas com situações de mau-estar.
Mas a Terapia não tem que ser só procurada como resposta aos desafios, existem outras questões que podem ser afinadas e melhoradas. Se formos ver noutros países da Europa, por exemplo, o recurso à Terapia Familiar é algo banal, enquanto que em Portugal ainda se encontra muito enraizado o mito da família perfeita e família feliz.
(Continua na próxima edição)
*Psicóloga, Terapeuta Familiar e de Casal
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