14 Jul 2022
Catarina Gomes *
(Continuação da edição anteior)
No caso de avaliarmos que a TF pode ser a abordagem adequada, realiza-se a primeira sessão, que se denomina de avaliação, em que ouvimos todas as visões de toda a família, e que nos permitirá perceber se fará sentido ou não esta resposta para a família.
Como já referi, é uma terapia breve e focada nas soluções. A intenção é trazer melhorias para a família, por forma a que esta consiga mudar a situação que a levou ao pedido. Para além disso, pretende que a família tome consciência das suas forças e tenha oportunidade de ampliar as mesmas, por forma a ter ferramentas para lidar com os desafios que vão continuar a surgir.
Uma família que procura ajuda, demonstra coragem e significa que quer ser melhor. Procurar apoio em fases precoces permite a mudança ocorrer mais rápido. A mudança é algo complicado e nós não estamos muito treinados para isso. É o sair da zona de conforto. Aquilo que é pedido à família é coragem para fazer diferente e ir percebendo se é por ali que querem ir.
Por norma, são realizadas entre 5 a 7 sessões, e, posteriormente, faz-se o que chamamos de sessões de follow-up/seguimento com espaçamento de 3/6/12 meses. Este é o protocolo direitinho, contudo, não nos podemos esquecer que cada família é única e que estes momentos existem para se ir reavaliando a necessidade de se reactivar o processo terapêutico.
As sessões são realizadas 1 vez por mês. E porquê? Acontece muita coisa na terapia, que precisa de tempo para ser assimilada, reenquadrada, e é preciso dar tempo à família para o fazer. Mesmo em termos de estratégias, é preciso dar tempo para a família para ir colocando em prática o que vai sendo abordado. Promover um olhar para cada um, o que é que cada um pode fazer na família, para melhorar ou para resolver. É preciso dar espaço. Podemos ainda fazer prescrições terapêuticas, para a família fazer durante o período de pausa. E estes ensaios de mudança, que acontecem entre sessões, é a vida a acontecer. A vida das pessoas tem que acontecer fora das sessões. A mudança também pode não surgir logo, pode ser necessário mais tempo. Mas, se entre uma sessão e outra, a família não procurar fazer nada de diferente, não acontece nada.
Na terapia podemos fazer simulações, mas o que acontece entre sessões é o que promove a mudança. Nas sessões acontecem insights, que favorecem a mudança também. Se as narrativas não forem mudadas fora do contexto das consultas, não ficam efectivamente assimiladas.
É uma terapia co-construída com a família. Estamos a estabelecer uma relação e, com a nossa própria comunicação, também estamos a mostrar diferentes formas de lidar com as situações. A nossa própria relação com a família é terapêutica.
A mudança não é sempre para cima, sempre a evoluir para o ideal ou perfeito. A mudança vai acontecendo, por vezes, no início. Como vai trazer diferentes perspectivas, vai alterar muito os padrões de interacção, de comunicação, e a família até pode ter períodos em que pensa “ainda estou pior do que estava”. Porque, por vezes, temos que ir um pouco ainda mais abaixo, para depois subir. E a intenção é estar ali no meio, quando vamos continuar a ter desafios.
Acreditamos, com esta abordagem, que a família tem tudo o que precisa. Têm é que reconhecer e saber por em prática. Amor, comunicação, empatia. Para isso é preciso tempo. Cada família é única, mas há etapas similares, o chamado ciclo vital da família, e ocorrem desafios normativos, mas que podem ser vividos de uma forma mais saudável.
Ver o crescimento e a mudança nas famílias é incrível. Ver a família a sentir-se mais forte para lidar com os desafios. Como diz Guy Ausloos “A família não se coloca um problema que não é capaz de resolver”. Por isso, acreditamos que a Terapia Familiar pode ser o espaço de que a família precisa para se fortalecer e mostrar, ou trazer ao de cima, aquilo que já tem de melhor.
(Continua na próxima edição)
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