4 Sep 2025
> Pensamento Livre
Meados de Julho e estou sentado numa esplanada virado para um dos locais que melhores e mais bonitas memórias trazem à maioria dos Oliveirenses.
Está calor mas de repente começou a cair aquela chuva “molha tolos” - ou será “molha todos”? Quase toda a gente fugiu mas eu não. Eu gosto de chuva, gosto muito de correr à chuva. Gosto do sabor da água da chuva a escorrer no rosto que, salgada, entra pela boca mesmo que fechada. Gosto de poças de água e de arrastar a minha neta para elas. E a Clara também já gosta, e muito, para desespero dos Pais, de chapinhar e saltar nelas, sempre com um sorriso de orelha a orelha que me dá arrepios de felicidade.
Olho ali para o mar do Furadouro e vejo máquinas, muitas máquinas, a fazer, a construir, a inventarem uma praia.
Perante tanta tecnologia do postiço, a minha mente, o meu imaginário, voou na máquina do tempo. Voou até ao momento em que o tempo não passava, éramos eternos; e voou até ao momento em que logo a seguir à Avenida, da qual não sabemos o nome porque será sempre “a Avenida”, todos alinhados no cimo das 25 escadas tínhamos de descer a voar, ir dar a volta ao caixote do lixo lá longe e voltar. Normalmente os últimos pagavam a cerveja aos primeiros.
Adoro esta praia com sol que faz lembrar as férias de Junho a Agosto; mas este tempo chuvoso dá o prazer de recordar os dias de Setembro em que estávamos mais tempo fechados mas em que consolidamos amizades para a vida toda.
Ai Furadouro... Furadouro... O que te fizeram Furadouro? Hoje estão a “acartar” areia para que tenhas um areal minimamente digno. Um areal em socalcos onde uns estão à beira-mar e outros num altar, deitados, quase estendidos na estrada.
Gosto de recordar o Furadouro dos anos 70 em que íamos nas excursões do “Ti Albano Roleta”. Gosto do Furadouro dos anos 80 em que ia de carro com a família, pais e irmãos. Gosto do Furadouro dos anos 90 do século passado em que ia de bicicleta com amigos. Gosto do Furadouro dos anos 2000 em que vou a correr de casa até lá.
E gosto deste Furadouro que nos aviva as memórias.
A idade tem destas coisas. Interessa é viver cada momento com seus encantos próprios e saborear cada pedacinho.
Estamos Juntos.
Ricardo Bastos, Organizador das ‘Corridas Solidárias’