7 Oct 2024
> Vítor Januário
É claro que não há responsáveis políticos por ignições. É claro que sempre houve incêndios ao longo da história do nosso planeta, podendo até imaginar que tenham sido de proporções bem mais espantosas do que as alguma vez registadas pelo ser humano. É claro que é difícil impedir sempre que se desencadeie um incêndio. No entanto, não é claro que, além disto, os poderes políticos, tanto no âmbito central como local, se furtem a assumir a responsabilidade que resulta do papel que lhes compete. Também é claro que quando há um assomo desta assunção não pode continuar a ser apenas um ato de contrição de quem quer mostrar fragilidade humana ou estratégia de condicionamento de eventuais imputações de responsabilidades. Não basta o ministro ou o autarca dizer que admite ou não, sendo preciso que o reconhecimento se torne consequente, ou seja, que o leve a um empenhamento visível e demonstrável na correção ou alteração da situação.
Não são o responsáveis políticos quem necessariamente tem de saber como evitar, combater e repor. Em vez disso, cabe-lhes saber decidir para procurar as soluções necessárias a que todas estas ações aconteçam.
Se o centro de combustão se situa na floresta ou na mata, obriga a que se execute ordenamento com, por exemplo, plantio correto de espécies adequadas bem como combate à proliferação selvagem de flora infestante e invasora , regulando ainda eventuais interessados em saturar solos com árvores de crescimento rápido. Ora, isto nunca é levado a sério. Além disso, é necessário alterar políticas que geram abandono de localidades, o qual leva, consequentemente, a que população envelhecida substitua áreas agrícolas por culturas silvícolas ou que, não tendo já disponibilidade física, acabe por não conseguir que deixem de ser tomadas por mato. Tratando-se abundantemente de pequenos proprietários, torna-se difícil exigir a garantia da indispensável limpeza. De facto, muitos já não têm força devido à idade e outros perdem entusiasmo por falta de rentabilidade que poderiam obter.
Portanto, o problema dos fogos não está apenas no combate após a ignição, embora seja indispensável a dotação de meios de corporações e a valorização da atividade de bombeiro (com ações diversas, como as que propôs o PCP e de que falaremos em próxima edição). O problema está nas medidas que devem impedir a expansão das chamas, tanto as que acautelam o ordenamento quanto as que determinam o investimento em profissionais sapadores e guardas florestais, assemelhando-se um pouco a uma vacina que trava a doença grave, mesmo que não vede a entrada da infeção.
Importa lembrar que, como os incêndios podem sempre ocorrer, não se pode deixar que ocorra a destruição de atividades e bens indispensáveis nem, fundamentalmente, a tragédia humana.
A iniciativa do PCP avança já em outubro, considerando que só se muda de facto, mudando as políticas, não o tom de voz os gestos ou o fato.
Vítor Januário, Representante Partido Comunista Português