Incêndios: quando o cinismo apela à resiliência!

Opinião

> Paulo Oliveira

Os incêndios florestais/rurais não são um fenómeno novo em Portugal. Desde a década de 70 do séc. XX, a frequência, dimensão e consequências dramáticas destes eventos têm aumentado significativamente, fruto de um conjunto de fatores que deverão ser considerados para uma reflexão coletiva e assertiva…”. Eis o discurso habitual em mais uma época de incêndios, mesmo ainda não tendo terminado, com os episódios desta “novela” que nos mostra mais do mesmo.
Não pretendo ser mais um “especialista” a tentar explicar o que já muitos fazem, apenas convido a uma breve e pequena reflexão, que possa contribuir para um agitar da consciência coletiva.
Praticamente há um ano viveram-se momentos dramáticos no nosso concelho e concelhos vizinhos devido a uma vaga de incêndios rurais que geraram pânico, desespero, perda de vidas humanas, outras feridas, destruição patrimonial, prejuízos a nível estrutural e ambiental. Pergunto-me se estes momentos serviram para nos consciencializar enquanto comunidade e refletirmos no que podemos fazer para contribuir para minimizar os seus efeitos, seja na prevenção seja na mitigação destes riscos? Não creio! Pelo menos na escala a que deveria acontecer.
Continuamos no mesmo registo consciencial, no fatalismo de que é sempre assim, nada muda, “eles é que o ganham”, são tudo interesses, enfim… No entanto, volta a acontecer, ano após ano, drama atrás de drama, sem que haja alteração na forma de ser e proceder perante tal calamidade.
Começa a “caça às bruxas”, quem é o responsável, de quem é a culpa? Muito barulho, cinismo público, aproveitamentos políticos, tenta-se apurar responsabilidades, quem foi, quem é, quem fez, quem não fez…. Há que assumir de uma vez de que a responsabilidade é de todos nós! Façamo-lo repartindo estas responsabilidades - poder político e população. Passo rapidamente a explicar: o poder político avalia, legisla, cobra, mas não fiscaliza; a população tenta cumprir (quem o faz e pode!), reclama e aguarda que corra tudo bem. Serão as alterações climáticas? Será porque no verão faz calor e a humidade desce? Será tão difícil aceitar o óbvio, que o risco de incêndio rural aumenta neste período do ano? Se já o sabemos o que fazemos nós, para minimizar os danos que podem bater à nossa porta? Há fogo? Chamam-se os bombeiros, depois logo se vê! E se não houver bombeiros, pelo menos em número suficiente? Será que durante o resto do ano nos lembramos dos bombeiros? E se for um sismo? Já nos esquecemos do que tanto se discutiu no ano passado acerca de sismos? Estamos preparados?
Assumamos que esta é uma guerra que não acaba e vamos apenas vencendo as batalhas que vão surgindo. Falamos da nossa sobrevivência! Ajudemo-nos dentro do possível. Por exemplo, quantos sócios existem e contribuem com as Associações de Bombeiros? Serão 2(dois) euros por mês que irão fazer a diferença no nosso orçamento, podendo deste modo contribuir com aqueles que irão aparecer para nos defender nesta guerra? Porque não agimos em comunidade nos núcleos onde residimos, criando ou participando em iniciativas com organização disciplinada, pessoas formadas e informadas adquirindo competências para colaborar de forma proativa, em programas no âmbito da defesa e proteção civil ao nível das freguesias conforme previsto na legislação? Não pode depender só das entidades e autoridades, depende também da disponibilidade e energia pessoal que entendamos despender, colaborando com estas mesmas entidades, criando uma espécie de “milícias da paz” em prol de todos nós, mas com sentido cívico, com humildade perante esta força gigante - a Natureza!
Enquanto não se mudar a consciência de que basta pagar para que funcione, nunca iremos obter resultados diferentes. O centro de tudo são as pessoas, devem ser as pessoas! Os incêndios não se extinguem com política nem com o conhecimento científico apenas! É preciso fazer! É preciso agir! Para mandar já há quem faça! Atuemos com a consciência que se espera de uma comunidade no séc. XXI. Façamos a nossa parte, de uma vez por todas!

 

Paulo Oliveira, Formador na área de Segurança e Proteção de Pessoas e Bens

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