> Eduardo Costa
Visitei Coimbra. Nunca me canso. E à hora habitual lá vou ao Café Santa Cruz ouvir fado. Desta vez fiquei desiludido. Não pela voz do fadista, mas porque não vestia a tradicional capa.
No final fiz este desabafo ao empregado de mesa. “A capa está ali!”. O seu tom de voz disse-me que também ele não gostou.
Entretanto, o fadista estava a vender os seus CD’s. Como é hábito. Abeirei-me dele. Para ser simpático comprei um. E disse-lhe: “gostei de o ouvir, mas sem a tradicional capa não é a mesma coisa”. O homem ficou sem saber o que responder e disse o que lhe veio à cabeça: “Se estivesse ali fora, agora cá dentro…”. Não deixei terminar. E disse-lhe: “Sabe, sem a capa de estudante que simboliza o fado coimbrão, Coimbra não tem o mesmo encanto…”. Referi assim a mais conhecida das letras: “Coimbra tem mais encanto…”
O fadista percebeu e baixou a cabeça. Balbuciou qualquer coisa que me pareceu ser ‘volte cá’.
Quem estava comigo questionou: “gastaste 15 euros só para lhe dizer isto…”. Eu esclareci: “Não gastei, investi na defesa do que acredito: devemos manter as boas tradições, sem as quais perdemos a nossa alma de povo. Tal como o folclore tem trajes que o distinguem conforme a regiões…”
De facto fiquei a pensar: se todos nós nos empenharmos um pouco em não deixar cair as boas tradições, continuaremos um país interessante.
Ouço muitos estrangeiros que nos visitam dizer que Portugal, sendo um país pequeno em dimensão tem muita diversidade cultural, gastronómica… Cada região tem uma ‘vida’ própria. Assim é. Assim deverá continuar a ser.
Eduardo Costa, jornalista, presidente da Ass. Nacional da Imprensa Regional
(Esta crónica é publicada por cerca de 50 jornais)