Irreverência e humor do Padre João

António Magalhães

*António Magalhães

O Padre João Baptista da Costa Dias nasceu em 1 de Novembro de 1872 na freguesia de Covelo de Paivó, na época do concelho de São Pedro da Sul, hoje de Arouca. Certamente de família de boa condição social, já que o pai exercia a profissão de sangrador, que os escritos nos dizem ter sido, através dos séculos, um precioso auxiliar do médico cirurgião. O padrinho era tabelião, o notário de hoje.
Estudou Teologia no Seminário de Viseu, sendo ordenado em 30 de Outubro de 1898. Da vida sacerdotal pouco se sabe, apenas que foi pároco encomendado em Covas do Rio, de São Pedro do Sul, entre 1901 e 1902, sendo-lhe concedida em 24 de Outubro de 1904, a seu pedido, a transferência para a diocese do Porto, inicialmente por um ano, depois definitiva.   
Não consegui apurar a data em que o Padre João veio para o Hospital da Misericórdia de Oliveira de Azeméis, onde durante décadas viveu e exerceu a capelania, auxiliando o pároco da vila. Mas todos os menos jovens recordam a sua figura bondosa, a sua tradicional bonomia, as suas chalaças, a sua presença diária no Café Arcádia, entretido no dominó e nas damas. Entrou na história a sua tradicional tolerância: na desobriga quaresmal, os jovens engrossavam a fila junto ao confessionário do Padre João, em desfavor de outros confessores, nomeadamente o Padre Salgueiro, de reconhecida aspereza.
O padre João faleceu, de broncopneumonia, no Hospital da Misericórdia, no dia 6 de Setembro de 1956, a escassos dois meses de completar 84 anos de idade. Foi sepultado inicialmente no cemitério da vila. Nesse tempo, a trasladação só era permitida ao fim de sete anos, e assim terá acontecido: o alvará n.º 3 da Câmara Municipal de O. Azeméis, datado de 19 de Fevereiro de 1963, autorizou a transferência dos restos mortais para o cemitério de Moldes, em Arouca. 
Por que razão foi repousar em Moldes? O padre João deixou bens, sendo possível que os tenha herdado algum familiar ali residente. Passados longos 68 anos, a tradição oral diz que jaz ali um padre do Covelo, tudo aponta para que na sepultura n.º 74, no talhão 2 do 1.º patamar… deszelada de há muito. Acreditando-se que teria um filho, poderá estar aí a explicação.  
A vida do Padre João passou já por aqui. Volta hoje pelo conhecimento que tive, entretanto, de um episódio contado pelo Dr. Pinho Rocha, outra referência da nossa vila.
O nosso Hospital pertencia à Misericórdia e era gerido por religiosas, onde pontificava, naturalmente a madre superiora.
Acontece que, certo dia, manhã cedo, uma noviça muito jovem faltou às orações da manhã – as chamadas “matinas”, sumindo-se também um jovem de Vale de Cambra ali internado. Fáceis as conclusões…
Desesperada, a madre superiora repreendeu asperamente o Padre João, acusando-o de não cuidar da formação das noviças.
A resposta foi rápida: “Madre: animais de sexo diferente, no mesmo curral, só um porco e uma galinha”.
Os personagens partiram há muito. A frase entrou na história.
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)

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