20 Nov 2024
> Helena Terra
Há um conjunto de coisas, aparentemente simples e pequenas, sem as quais eu não conseguiria viver. Uma delas, senão a principal, são as pessoas e, caso alguma vez tivesse tido dúvidas sobre o assunto, os tempos, de má memória, da pandemia por covid 19, confirmaram aquilo que sempre achei muito importante no meu dia a dia, as pessoas.
Nunca quis ser juiz e o que vou afirmar a seguir, torna-me ainda menos credível neste exercício, o de ajuizar em causa própria, mas considero-me uma pessoa de fácil convívio. Tenho, em todas as formas de convívio interpessoal, algumas exigências das quais não sou capaz de abdicar e, elegendo uma que possa ter a vantagem de resumir ou sintetizar todas as outras, é, sem qualquer dúvida a lealdade.
A lealdade é um valor humano que revela a capacidade de uma pessoa ser plenamente confiável, mantendo a retidão ética e moral, a honestidade e a capacidade de honrar e manter-se honrado quer quanto às palavras e proclamações, quer quanto aos seus atos, dos mais correntes aos mais extraordinários.
Quem não é leal, tendo o dever de o ser, age sem retidão, sem lisura, perdendo idoneidade, respeito por si próprio e pelos outros, sendo que, em relação a estes põe em causa todo e qualquer tipo de confiança por parte daqueles com quem se relaciona e que deles tinha a expectativa, legítima, de comportamento leal.
As causas da falta de lealdade, de retidão e de lisura podem ser múltiplas. Uma das causas típicas é a soberba. Peço aos leitores que desculpem, mas é importante explicitar o que é a soberba. É uma manifestação de orgulho, de pretensão, de superioridade sobre as outras pessoas. É a arrogância intelectual, comportamental e social. É a altivez, a autoconfiança exagerada com uma vontade exasperada de afirmação pessoal. Soberba é uma manifestação negativa e denota uma pretensão de superioridade que começa por gerar suspeita e acaba na mentira descarada.
Será possível, em alguma circunstância, recuperar a confiança e lealdade de alguém?
Diz o nosso povo que “gato escaldado de água fria tem medo”. Este medo é gerado pela “água” que, numa circunstância em que estava a ferver “escaldou o gato”. Depois de usar este ditado popular é mais fácil retomar a reflexão que aqui quero deixar. Após esta experiência de escalada negativa, o primeiro antidoto é assumir o problema/erro, o segundo a usar é pedir desculpa, mas desculpa sincera, o terceiro é reconhecer que a superioridade se conquista, sendo certo que nem todos a alcançam, o quarto é querer efetivamente ser leal, porque a lealdade é uma criação e não uma proclamação, além de que não adianta vestir a pele de” tigre” para a exibir a alguém que conhece o “gatinho”.
Os comportamentos “buldózer” e as “ultrapassagens pela direita”, normalmente acabam em acidente. Os danos dai resultantes dependem muito mais da forma como o causador do acidente o assume e o tenta resolver do que de qualquer outra coisa.
Helena Terra, Advogada