8 May 2025
> Pensamento Livre
Numa tarde destas, estava com um amigo oliveirense na zona de atendimento do Hospital S. Sebastião à espera de ser atendido, quando uma jovem nos interpelou perguntando se era preciso tirar uma senha para ser atendida. Dissemos que sim e ela assim fez.
De seguida, dei-lhe a minha senha em troca da dela, pois ela já lá estava à minha frente. Acabou por ser atendida dois lugares à minha frente e fomos às nossas vidas.
Quando saí, vi a mesma jovem no meio de quatro homens e duas mulheres, mesmo em frente à porta. Eram todos de etnia cigana. Quando passei por perto, um deles disse de forma bem audível “Senhor”... Não liguei muito e ele repetiu “Senhor”... E já vinham todos na minha direção.
Reconheço que temi o pior mesmo sem saber a razão. De qualquer forma, se acontecesse algo, eu estava no sítio certo, pensei eu. Parei e já quase rodeado o mesmo homem sorriu e disse algo admirável: “Não estamos habituados a ser tratados como o senhor fez”. Respirei um pouco de alívio e perguntei “que fiz eu?”. “Deu a sua vez ali à menina”. Respondi que a vez era dela, só que não sabia.
Conversámos um pouco e soube que estavam lá por causa de um familiar internado.
Este episódio ocupou os meus pensamentos por umas horas e fez-me sentir bem. Não pela minha atitude mas pela deles; pessoas tantas vezes marginalizadas pelo preconceito mas que mostraram ser muito mais humanos do que imaginamos...
Eu mesmo temi, apesar de não ter feito nada de errado.
Pelo caminho liguei ao amigo que assistiu à primeira cena e juntos fizemos uma bela reflexão acerca do preconceito, das percepções e sobretudo das reações humanas. Recebi uma bela lição.
Estamos juntos.
Ricardo Bastos, Organizador das ‘Corridas Solidárias’