Urb@nidades - Rui Nelson Dinis
Em 19 de abril de 2023, o Partido Socialista completou 50 anos de existência e Portugal está de parabéns! O PS foi um partido central para a instauração e consolidação da Democracia, do Desenvolvimento e da Descolonização. Goste-se ou não, a realidade é esta.
O PS foi decisivo para impedir as tentações totalitárias em Portugal, na esquerda e na direita (olhe que sim, olhe que sim), promoveu as liberdades individuais, a dignidade da pessoa humana, o estado de direito, a integração europeia, o multilateralismo, a modernidade.
O PS foi fundamental para promover valores sociais, como o serviço nacional de saúde, a escola publica, a igualdade, a segurança e proteção social, o combate ao analfabetismo, ao trabalho infantil, a inclusão social e o combate ao conservadorismo marreta do Portugal do restelo. Hoje parece tudo fácil. Mas não foi.
Tornei-me militante da JS em 1985 (Direito, Coimbra) e do PS em 1988 (Secção Europa, Coimbra) e em 1995 (Secção e Concelhia de Oliveira de Azeméis). Já não me lembro porque sou militante. Já lá vão mais de trinta anos. Salvo uma curta fase de vida política, na Universidade e na minha autarquia, a vida partidária raramente me entusiasmou. A minha colaboração com o Governo de António Guterres, há mais de duas décadas, foi uma intensa e fulgurante exceção - da qual não me arrependo, mas que não teve continuidade.
Ainda assim, sou sobretudo um fervoroso eleitor, mais do que um disciplinado militante. Assumo ser soarista, sempre, mas nunca aceitei outros rótulos. Separei, na política, os amigos dos correligionários. Tenho amigos de todos os espectros partidários e percebi que a natureza e condição humanas não se resumem à política. Felizmente.
A militância partidária, onde fui sujeito a diversos maus-tratos e algumas sevícias episódicas, realizou-se sob a forma de cidadania ativa, deixando-me na dúvida, por que raio ainda sou militante. Eu próprio, não sei. Como disse a um amigo, sou militante para preencher a quota de pertença a organizações senis e não precisar de dar mais explicações sobre isso. É como, para outro português, ser do Benfica (ainda que não seja).
Em cerca de 35 anos, nunca exerci cargos dirigentes nacionais ou cargos executivos, mas estive presente no exorcismo da maioria dos congressos. Assumo ser um militante intermitente, mas fervoroso adepto de base da cidadania. Participei em centenas de eleições e campanhas, manifestos, subscrições, mas nunca quis que isso fosse a minha vida. E julgo ter conseguido. A minha carreira profissional foi feita duramente, fora da política. A política deu-me amigos, poucos, mas bons. Admiráveis, a quem venero. Mas não os sirvo.
A minha relação pessoal com o PS é irrelevante e indiferente a isso. O PS vale pela sua relação genética e umbilical com Portugal e com os portugueses e o seu papel e valor históricos, não são afetados pela aparição pontual de personagens grotescas, nem pelo descrédito inerte de caminhos temporários da governação.
O legado do PS para Portugal vale muito mais do que a pequenez dos que vivem na sua sombra e à sua custa. Nós sabemos quem são. Eles não sabem quem somos. Estamos disfarçados e anónimos, perdidos entre os Portugueses.
Feliz Aniversário a todos/as os/as socialistas, filiados, federados, arregimentados, simples eleitores, simpatizantes ou detratores. Celebrar este aniversário, é também celebrar o 25 de abril de 1974, que mudou definitivamente a face de Portugal, ainda que não tenha varrido para o caixote de lixo da história alguns dos nossos traumas coletivos.
Viva Portugal, livre e democrático!
(comente em: dinis.ruinelson@gmail.com)