27 Mar 2025
Carlos Silva é o CEO da Joluce desde 2008
> Carlos Silva, CEO da Joluce
Fundada em 1971, a Plásticos Joluce trabalha hoje, fundamentalmente, em três áreas: a área do mobiliário de jardim e doméstico, o mobiliário ‘contract’, “que é o segmento mais premium da hotelaria” e a área do branding. Portugal, Espanha, Itália, França, Bélgica, Hungria, Chéquia, Áustria, Suiça, Roménia, Países Baixos e Marrocos são apenas alguns dos países para os quais a Plásticos Joluce produz os seus materiais e fornece os seus serviços atualmente, sendo que há algo que está sempre presente nos objetivos da empresa, a sustentabilidade ambiental.
A necessidade de mudar comportamentos e a “polivalência” do plástico
“Até hoje, ninguém conseguiu apresentar materiais alternativos ao plástico. É um material que tem uma polivalência tão grande que nos permite moldar quase tudo, basta olharmos à nossa volta e verificamos a importância do plástico na nossa vida”, sustenta Carlos Silva. O administrador da Joluce acredita que a sociedade tem um papel relevante e obrigatoriamente deve fazer parte da solução, com práticas sustentáveis.
O CEO da empresa oliveirense acredita que se a sociedade possuísse uma “cultura comportamental adequada”, se não existisse tanta desinformação, a questão da desmitificação do plástico e do impacto negativo quanto à poluição, isto seria um “não assunto”, porque o “plástico é um produto que se pode usar e reutilizar e por ser 100% reciclável”. Carlos Silva argumenta que uma das principais causas da poluição de plásticos está relacionada com a inexistência ou a fraca “cultura de reciclagem” da sociedade em geral.
Ainda assim, o administrador da Joluce concorda com o facto de que o plástico contribui para alguns dos “males” que existem na vida quotidiana, principalmente os produtos de uso único, como palhinhas e cotonetes, algumas embalagens, etc. “Muitas das vezes, os produtos de uso isolado, pela sua dimensão fazem com que muitas das pessoas, com práticas menos adequadas, acabem por não separar esses produtos, e colocá-los em locais indevidos e isso acaba por contribuir para a contaminação dos solos e do mar, daí a questão dos microplásticos que tem tido um impacto muito negativo”, atesta.
Quanto às possíveis alternativas para o plástico, como o metal e a madeira, o CEO da Joluce alerta que os custos ambientais também seriam significativos. “A madeira, por exemplo, no processo de transformação, representa custos energéticos e financeiros elevadíssimos, e além disso todos sabemos que o abate de árvores em larga escala tem consequência ambientais muito negativas, porque é necessário garantir ecossistemas sustentáveis e o oxigénio que tanto precisamos para viver”.
A parceria com a Nestlé
A Joluce foi a responsável pelo desenvolvimento e produção de cerca de 17 mil cadeiras de esplanada feitas com borras de café e cápsulas de café da própria marca Nestlé, num “projeto inovador”, conforme explicou Carlos Silva, CEO da empresa oliveirense. “Estamos a fazer um projeto inovador com a Nestlé em que estamos a fazer cadeiras injetadas com borras de café e com cápsulas e resíduos das mesmas para várias marcas desta multinacional. Este ano as pessoas vão poder estar sentadas numa esplanada e essa cadeira foi produzida com borras e cápsulas de café. Tratou-se de uma parceria com uma empresa que fez a transformação deste tipo de materiais, e que depois de inúmeros testes feitos pela Joluce, durante quase um ano, e depois de apresentado o projeto à Nestlé Portugal, o mesmo foi aceite desde o primeiro momento, e este ano em exclusividade”, atestou Carlos Silva, apontando para no futuro apresentar o projeto a outros clientes.
O Programa Starting Point
A sustentabilidade tem sido uma aposta forte da Joluce nos últimos anos, com vários projetos nesse sentido. Um desses é o programa Starting Point [Ponto de Partida em português] que, de forma resumida, consiste em trazer de volta à linha de produção um produto que já tenha sido vendido e utilizado pelo consumidor final.
“Imagine que vai a uma superfíce comercial e que compra produtos da Joluce. Após a sua utilização, por estar em fim de vida, por desgaste, ou até por quebra, volvidos uns anos o cliente tem a possibilidade de devolver o(s) produto(s), recebendo um benefício por parte da superfície comercial, esse(s) mesmo(s) produto(s) regressam à Joluce, por isso é que é Starting Pont [Ponto de Partida]. A partir daí, nós trituramos e reutilizamos fazendo com esses produtos, novos produtos, garantindo assim a circularidade. E, portanto, esta é uma de muitas das iniciativas e práticas sustentáveis que temos vindo a desenvolver”, explicou o CEO da Joluce, Carlos Silva.
Sugestões de medidas a serem aplicadas na sociedade
Apesar da Joluce se preocupar em criar e fazer parte de projetos que promovam uma maior sustentabilidade ambiental, o CEO da empresa oliveirense, Carlos Silva, deixou algumas sugestões de medidas que considera que podiam ser aplicadas na sociedade. Uma delas passa por promover e sensibilizar junto da comunidade, para a necessidade de colocar os produtos em locais próprios, nos pontos de reciclagem, e mesmo em centros ou depósitos para o efeito, recebendo um determinado valor ou benefício por esse ato. “Na Alemanha, por exemplo, há muitos anos atrás, já existia uma cultura comportamental de exigência e de boas práticas, vi-a pessoas, muitos delas sem-abrigo, à procura das garrafinhas de plástico ou outros produtos em plástico, porque a entrega das mesmas em locais específicos, garantia-lhes um determinado valor em dinheiro. E isso era uma medida que, por exemplo, podia ser seguida de um modo geral. Essa medida, simples de aplicar a meu ver, acabaria com muito do lixo em plástico que vemos, um pouco por todo o lado, esse lixo acabaria em centros de trituração, e reduzíamos substancialmente a pegada ecológica”, explicou Carlos Silva. Porém deixou no entanto a ressalva que “o problema nem está tanto na Europa. Os principais poluidores estão identificados e estão em outros extremos do globo, Ásia e África, em que efetivamente não há formação, muito menos informação, e não há práticas adequadas para aquilo que é a necessidade de evitar a catástrofe da poluição nos dias de “hoje” e que em muito vai prejudicar o futuro”.
A aposta na sustentabilidade
“Estamos a apostar muito naquilo que é a sustentabilidade da gama que já temos. Quando digo isso, refiro-me a produzir uma parte considerável da nossa gama em materiais 100% reciclados e 100% recicláveis”, começou por referir o CEO da Joluce, Carlos Silva, explicando que “o nosso projeto passa muito por incorporar cada vez mais material reciclado na nossa própria gama. Temos vindo a desenvolver algumas gamas alternativas também, em outras áreas e que brevemente serão apresentadas. Temos um projeto muito interessante que está praticamente a meio para a área animal “PET” e também queremos ter uma linha para casa e para criança”.
A evolução da Plásticos Joluce: mais de meio século de história
A Plásticos Joluce S.A. foi fundada, em 1971, e o nome da empresa não é inocente. Cada par de letras representa os nomes de cada sócio-fundador: ‘Jo’, de Joaquim, ‘Lu’, de Lúcio e ‘Ce’, de César. Desde a fundação, a empresa oliveirense funcionou como um complemento à empresa-mãe, Moldoplástico S.A., nascida 16 anos antes, em 1955. “A Moldoplástico fabricava moldes, na sua maioria para exportação, mas estes eram enviados para os clientes, que os testavam nas suas instalações, ou tentava encontrar-se empresas para fazer esses testes”, contextualiza Carlos Silva, CEO da Joluce. Refere que a Joluce nasce, assim, com o objetivo de ser um complemento à Moldoplástico, que permitia fazer testes aos moldes produzidos e verificar que o produto final chegava ao cliente nas devidas condições e com qualidade. Após adquirir uma máquina de grandes dimensões, a Joluce conseguiu “dar um salto” na sua atividade. “Para além do apoio prestado à empresa-mãe, a Joluce começou a ter uma dimensão significativa ao nível da subcontratação e atuava como um fornecedor de produto final para outras empresas”, explica o atual CEO, que dá conta de que, mais tarde, um outro projeto viria a influenciar de novo a atividade da empresa: a produção de um casco de uma cadeira para um estádio de futebol e a produção com moldes para mobiliário para uma empresa do sector. “Esses foram os motivos que nos levaram a direcionarmo-nos para o mobiliário de jardim e de exterior”, revela Carlos Silva. Aliado a este projeto, a gerência da empresa começou a refletir na possibilidade de ter uma gama de produtos próprios, que acabou por ser solidificada já neste século, a partir de 2005, a Joluce investiu muito, em novas instalações, no Eco Parque Empresarial de Estarreja, e começou a trabalhar numa gama de produtos de venda para supermercados e para as grandes marcas cervejeiras, em Portugal. É a partir de 2008 que a empresa dá o “grande salto”, nas palavras de Carlos Silva, que até aí trabalhava na Moldoplástico. “A empresa apostou forte no mercado de exportação e em pouco tempo mais que duplicou o seu volume de negócios, com modelos renovados e com um design completamente diferenciado. Acabámos por dar um salto quantitativo e qualitativo e afirmamo-nos como uma empresa de referência e reconhecida internacionalmente como um dos melhores fabricantes do mercado”, explicou.
Matéria-prima a partir de caroços e do dreche de cerveja
Com o pensamento sempre na inovação e em soluções cada vez mais amigas do ambiente, a Joluce tem apostado em formas alternativas de produção, conseguindo hoje em dia “fazer qualquer tipo de injecção que tenha na sua base por exemplo caroços e outros materiais de origem natural. Sejam caroços de azeitona, pêssego, ameixa, serrim de madeira, cortiça, fibras de coco, etc… nós conseguimos injectar quase tudo que seja sólido. Estes materiais são tratados, triturados e é feita um compósito com uma matéria prima específica na sua base que nos permita a injecção nas devidas condições”, explanou Carlos Silva, CEO da Joluce, acrescentando que “esse é um projeto que estamos a desenvolver, que nos vai permitir no fundo, apresentar soluções inovadoras ao mercado”. Outro projeto que a Joluce se encontra atualmente a trabalhar, passa pelo aproveitamento dos resíduos da produção da cerveja, dreche, e que futuramente a empresa apresentará às marcas cervejeiras, estando neste momento já em fase de testes.
A Joluce foi a responsável pelo desenvolvimento e produção de cerca de 17 mil cadeiras de esplanada feitas com borras de café e cápsulas de café da própria marca Nestlé.
Com o pensamento sempre na inovação e em soluções cada vez mais amigas do ambiente, a Joluce tem apostado em formas alternativas de produção.
A empresa está sediada no Eco Parque Empresarial de Estarreja
A formação em chão de fábrica é importante para a empresa.
A Joluce foi fundada, em 1971, e o nome da empresa não é inocente. Cada par de letras representa os nomes de cada sócio-fundador: ‘Jo’, de Joaquim, ‘Lu’, de Lúcio e ‘Ce’, de César.
“Até hoje, ninguém conseguiu apresentar materiais alternativos ao plástico”
“O problema nem está tanto na Europa. Os principais poluidores estão identificados e estão no outro ponto do globo”