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Correio de Azeméis

5 Aug 2025

“Não me reformarei nem mesmo depois de morto, porque a memória transcende”

Concelho

Ilídio Pinho recebe das mãos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a mais alta condecoração nacional do país, a ‘Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique’ nos 25 anos da Fundação Ilídio Pinho, criado em memória do seu falecido filho Ilídio Pedro

>Entrevista ao Correio de Azeméis nos 25 anos da Fundação Ilídio Pinho

Natural e a residir em Vale de Cambra, Ilídio Pinho, manteve sempre uma forte ligação à sua terra natal e à região, tendo inclusivamente frequentado a muito prestigiada Escola Comercial e Industrial de Oliveira de Azeméis. A região onde se insere, foi por opção, a terra onde sempre quis viver e onde foi presidente do Conselho Municipal de Vale de Cambra de 1979 a 1983 e presidente da Assembleia Municipal de 1993 a 1997.

Entrevista conduzida por Eduardo Costa (diretor)


Foi em Vale de Cambra, sua terra natal, e onde os seus pais edificaram a ARSOPI (Arlindo Soares de Pinho), metalomecânica, uma referência empresarial nacional e internacional, que ILÍDIO PINHO fundou a COLEP, que veio a assumir a liderança nacional e internacional do setor dos aerossóis.
Do sucesso da COLEP, Ilídio Pinho estendeu a sua atividade empresarial a variadíssimos setores, revelando uma reconhecida veia de “empreendedor”, e tornou-se uma referência de serviço público e dedicação às artes e à cultura em especial (ver caixa). 
De tudo o que criou, poderemos afirmar pelo que tem nos tem permitido assistir, a Fundação Ilídio Pinho preencherá um espaço especial na sua vida recente, presente e futura. 
Há um quarto de século que a prestigiada instituição tem merecido o carinho de um pais atento a quem dá de si pela comunidade. 
Na celebração dos 25 anos da Fundação, criada em memória do falecido filho, Ilídio Pedro, como sempre faz questão de lembrar, o engenheiro Ilídio Pinho aceitou amavelmente conceder uma entrevista exclusiva ao Correio de Azeméis. 
“Decidi há muito tempo não dar entrevistas, mas abri exceção para A Voz de Cambra e agora para o Correio de Azeméis”, porquanto jornais da sua terra e região.

Correio de Azeméis (CA):  CIÊNCIA, ARTES, CULTURA e HUMANIZAÇÃO: quatro áreas da atuação da Fundação Ilídio Pinho para ajudar Portugal. Como analisa a ação da Fundação Ilídio Pinho nestas áreas nestes 25 anos?

Ilídio Pinho (IP): Olho para estes 25 anos com o orgulho natural de quem criou uma Fundação para materializar os desejos de contribuir para a humanização da sociedade portuguesa atuando na ciência, nas artes e na cultura.
Não foi atuar no arrastar dos acontecimentos. Foi atuar na dinâmica dos acontecimentos ao serviço de um Portugal do futuro.
CA: 25 ANOS depois, que iniciativa ou iniciativas melhor cumpriram o projeto da Fundação Ilídio Pinho?

IP: A síntese dos projetos da Fundação é o Grande Prémio da Portugalidade.
Foi uma iniciativa que nasceu da ideia de distinguir Portugueses de excelência. Cem mil euros é o valor pecuniário de um prémio que vale também pelo simbolismo dos três primeiros galardoados: O Cardeal Tolentino de Mendonça, o Arquiteto Álvaro Siza Vieira e o Presidente Ramalho Eanes.
Mas todos os projetos em que a Fundação se envolve têm esta dimensão humana, patriótica e de reconhecimento.
Na celebração dos 25 anos a Fundação entregou uma escultura a cada uma das 25 personalidades com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa à cabeça e uma medalha comemorativa a diversas figuras da nossa vida intelectual, académica, cívica e política que colaboraram nas suas iniciativas.

CA: O que mais gostava que a Fundação Ilídio Pinho tivesse realizado?

IP: Projetos económicos de utilidade pública com outras Fundações de interesse nacional a exemplo do que acontece com outros países, nomeadamente nos Estados Unidos.
Tentou, mas não conseguiu. Teria sido importante, pois poderia ter tido uma excelente gestão destes projetos, sem intervenção política, ocupando o lugar do Estado que nunca poderá ter gestão com sucesso, dada a burocratização política a que está submetida na sua complexidade.

CA: Que significado teve a atribuição pelo Presidente da República da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique ao empreendedor que “é honra para Portugal (como disse Carlos Magno) - contextualizando o cidadão mais medalhado da região onde se insere Vale de Cambra.

IP: As homenagens que eu recebo distinguem também a terra onde nasci e a região do País a que pertenço. Ser condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante, depois de receber outras ordens honoríficas, é reconhecer que pertenço a uma classe de portugueses empreendedores e que navegam na cultura universal como o próprio Infante D. Henrique, nascido no Porto, nos ensinou.
Estou grato por tal honra ao Senhor Presidente da República como também ao Primeiro-Ministro António Costa quando me atribuiu a Medalha de Mérito da Cultura.
E grato também às Universidades de Aveiro, Porto e Católica pelos Doutoramentos Honoris Causa que me foram atribuídos, assim como as Medalhas de Ouro de Vale de Cambra, Universidade Católica e Cidade do Porto, e outras mais, nomeadamente o Prémio “Lifetime Achievement Award” da Deloitte.
Diga-se que estive 12 anos no Conselho das Ordens Honoríficas a assumir a responsabilidade de oferecer o meu parecer sobre o mérito nacional, ou não, às propostas que se apresentavam para condecorações.

Tenho, pois, a obrigação de distinguir aqueles que para além dos seus interesses pessoais também são defensores ativos de causas nacionais com sentido de missão. 

No que toca à Fundação Ilídio Pinho sei que ela saberá, na memória dos tempos, mostrar que defendeu e dinamizou sempre causas de interesse nacional e que o país beneficiou fortemente com isso, nomeada e principalmente na cultura.

O significado de atribuições honoríficas que me foram atribuídas não é a mim que me compete avaliá-las. A mim compete-me fazer o máximo porque não sei ser de segunda. Ou faço bem para além do meu tempo, ou não faço.

CA: Na cerimónia referiu o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, que Ilídio Pinho era “um espírito inconformado e empreendedor”. Revê-se nessa afirmação?

IP: Completamente. Mas acrescento: focado nos objetivos. E além disso ativo como já referi atrás e acrescento: não me reformarei nem mesmo depois de morto, porque a memória transcende.

CA: Que conselho poderia dar a cidadãos designadamente jovens, que tenham a vontade de ser Empreendedores.

IP: O verbo empreender conjuga-se na prática pela ação concreta.
Metam-se ao caminho da vossa vocação. Não tenham medo. Arrisquem. A sorte protege os audazes. Mas atenção: É preciso conhecer e saber o mundo. Conhecer as tendências e antecipar o futuro. Deixem depois acontecer os acasos que só beneficiam aqueles que estão bem preparados para os utilizar. Não se dispersem nas multiactividades ou serviços incontroláveis. Garantam sempre uma cultura de grupo com benefícios sinergéticos.

CA: “Só a ciência e cultura podem fixar jovens no território”.
Gostávamos que explicasse este pensamento em termos de coesão territorial?

IP: A cultura é transversal ao território, mas há identidades culturais que estão nas raízes. Eu sou um homem do Norte. Sei o significado desta frase e sinto que ela faz de mim um homem do Mundo, mas amando o meu Portugal. A ciência hoje é partilhada globalmente.

É possível trabalhar em qualquer ponto do mundo, desde que haja comunicação e espírito de curiosidade. A coesão territorial implica não excluir locais onde falta poder político ou liderança por falta de elites. Mas a cultura no sentido geral é que forma cidadãos globais e cosmopolitas capazes de entender o sentido local, vivendo em proximidade esteja-se onde se estiver, porque no fundo é a grande ambição do ser humano.

CA: A afirmação pode enquadrar-se na reconhecida missão da Imprensa Local para a coesão territorial e enriquecimento dos cidadãos nomeadamente a nível cultural

IP: A imprensa local é a mais importante no atual contexto em que a dita imprensa nacional afunila a sua agenda nos problemas paroquiais da classe política. Toda a imprensa local pode ser internacional no digital desde que faça notícia construtiva do que acontece nos territórios a que pertence.

Eu diria em todos os territórios a que pertence porque o futuro com as digitalizações, comunicação on-line e a ciência na sua plenitude sem fronteiras, acabará por, no além, criar proximidade global em todo o ser humano. 

 

Impressionante exemplo de empreendedor e cidadão participativo
 

ILÍDIO DA COSTA LEITE DE PINHO
Vale de Cambra, 19 de dezembro de 1938

Descendente duma família estabelecida na indústria do leite, casou com Maria Emília Resende Costa Pinho e fruto deste relacionamento descenderam os filhos: Doutora Daniela Sofia da Costa Leite de Pinho e Doutor Ilídio Pedro da Costa Leite de Pinho, 1968-1990.

Como habilitação Académica, em 1964 formou-se como Engenheiro de Eletrotecnia e Máquinas pelo Instituto Industrial do Porto, atual ISEP (Instituto Superior de Engenharia), Classificação na dissertação final, 16 valores.  Como Experiência Profissional destacamos a OLIVA-Indústrias Metalúrgicas, S.A. – S. João da Madeira; VICAIMA-Indústria de Madeiras e Derivados, S.A. – Vale de Cambra; ARLINDO SOARES DE PINHO, LDA (ARSOPI) e Indústrias Metalúrgicas – Vale de Cambra.

Não esquecendo a sua terra natal, Ilídio Pinho tem sido benemérito de várias iniciativas e instituições, das quais destacamos: 1998 - Oferta a cinco freguesias do concelho de Vale de Cambra para obras de carácter religioso, social e cultural, no montante de 50.000 contos, Oferta do Auditório “Ilídio Pinho” da Universidade Católica Portuguesa, no montante de 80.000 contos.
Associações Culturais, Desportivas, Religiosas e Outras: 1971 - Presidente da Assembleia Cultural, Desporto e Turismo de Vale de Cambra; 

Os cargos honoríficos são demonstrativos da sua dedicação à causa pública e empresarial. Em 2025 foi condecorado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, foi nomeado Comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial, Grã-Cruz da Ordem do Mérito. MEDALHA DE MÉRITO CULTURAL pelo Governo Português, em reconhecimento pelo seu trabalho. Em 2002, foi agraciado com o Crachá de Ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses - Bombeiros Voluntários de Vale de Cambra. Em 1999, recebeu a Medalha de Ouro e o título de Cidadão Honorário de Vale de Cambra, e a Avenida principal da cidade passou a ter o nome de “Engenheiro Ilídio Pinho”. De 1996 a 1999, foi Vogal da Chancelaria das Ordens Honoríficas para a Área Industrial, durante o mandato do Presidente da República, Doutor Jorge Sampaio. Entre 1986 e 1995, exerceu a mesma função durante os mandatos do Presidente da República, Doutor Mário Soares.

Como cargos em Organismos de Estado destaca-se em 1986 - Membro da Comissão Nacional de Honra de apoio à candidatura à Presidência da República do Senhor Doutor Mário Soares,  1981 - Membro da Comissão Nacional de Honra de apoio à candidatura à Presidência da República do Senhor General Soares Carneiro.

Nas atividades empresariais o currículo é vasto na participação de Ilídio Pinho em empresas nacionais e internacionais, industriais e financeiras.

 

> Palavras de Ilídio Pinho na sessão comemorativa do centenário do Correio de Azeméis
As Terras de Santa Maria e a razão do seu empreendedorismo


“Portugal nasceu deste espaço militar e administrativo, entre as cidades do Porto e de Coimbra, à sombra do Castelo da Feira”.

“É tempo de ligarmos o passado ao presente, para percebermos porque é que esta região, dá ainda hoje lições de bairrismo, empreendedorismo e de patriotismo ao país”.

“A história dos concelhos de Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra, São João da Madeira, Santa Maria da Feira, Ovar e Arouca está na matriz genética de Portugal e, do fundo dos tempos até hoje, estas terras continuam a ser exemplos de portugalidade”.

Oliveira de Azeméis na Vida de Ilídio Pinho
“Porque iniciei há mais de setenta anos, como estudante, o meu convívio económico e social com Oliveira de Azeméis e com os concelhos vizinhos. Sou, por isso, testemunha das enormes dificuldades que o empreendedorismo teve para se afirmar na região”.

“Só o bairrismo próprio destas gentes de terras de Santa Maria pôde fazer com que a enorme vontade de vencer, suportasse todos os sacrifícios que tiveram de ser feitos, nomeadamente vencer a difícil orografia dos terrenos”.

“Queremos ganhar, antecipando as condições que esta região pode oferecer para tornar Portugal mais competitivo e o mundo muito melhor para todos”.

“As minhas saudações aos empresários que com o seu notável bairrismo e sacrifício c ontribuíram para o sucesso económico desta nossa região”.


 

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