14 Jul 2022
António Magalhães
O auditório da Biblioteca Municipal Ferreira de Castro foi palco da jornada de evocação da memória da Senhora de Cidacos. Celebrou-se o centenário, ocorrido em Maio, mas que as circunstâncias retardaram.
Homenagear Dona Isabel Maria é, antes de mais, evocar a Casa de Cidacos, berço e lar de grandes vultos da nossa terra. É recordar o Professor Costa Nunes, um dos Bravos de Mindelo, que regressou à cadeira de mestre régio da nossa então provinciana vila após seis anos de amargurado exílio pela fidelidade aos ideais implantados, em 1820, pela chamada Revolução Liberal do Porto, defensora de uma monarquia constitucional.
O mestre cuja filha Rita Margarida haveria de casar com o Dr. Francisco Albano Amador Valente, este pai, por sua vez, do Dr. Manuel Amador Valente, ambos advogados e figuras gradas da sociedade e da política local. Por sua vez, a filha do último, Maria Luísa, casaria com o Dr. Alberto de Sá Oliveira, prestigiado servidor da causa pública a quem devemos a construção do primitivo Centro de Saúde – considerado, na época, dos melhores apetrechados da província - quando exercia as funções de Presidente do Conselho de Administração da Federação das Caixas de Previdência e Abono de Família, razão por que o seu busto ali se ergueu.
Um casamento de que nasceriam Dona Isabel Maria e mais três irmãos. O facto de nenhum dos quatro ter filhos determinaria a extinção da Casa de Cidacos. Pois que, solteiro e sem filhos, faleceria também o Dr. Manuel Seabra Amador Valente, devotado amante da Casa de Cidacos, um apaixonado pela arte e que por ela correu o mundo.
Homenagear Dona Isabel Maria é prestar a justa consagração a uma Senhora – a Senhora de Cidacos, como todos carinhosamente a trataram - que, no respeito e na lealdade às tradições dos seus maiores, fez da nossa terra o grande amor da sua vida, de que o Rancho Folclórico de Cidacos é apenas o sinal mais visível. Porque, no maior silêncio, há muita lágrima enxuta, muita dor consolada, muita esperança acalentada. Homenagear Dona Isabel Maria é ainda evocar a figura saudosa e presente do Juiz Conselheiro José Calejo, sempre recolhido na maior humildade, companheiro dedicado de todas as horas boas e menos boas.
Dona Isabel Maria faleceria em Agosto de 2019, aos 97 anos de idade. Uma morte que pode ter ditado, sem retorno, o fecho dos sempre franqueados portões da histórica Casa de Cidacos, decidirá o doloroso rasgar de uma página de ouro da história oliveirense. É a vida…
Saiba o seu Rancho, que criou, amou e serviu, saibamos, nós todos, oliveirenses, ser dignos da sua memória.
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)