No futuro, a IA baseada num algoritmo vai dizer quem vive e quem morre.

Opinião Carlos Costa Gomes

> Carlos Costa Gomes

O que pode dizer a bioética à possibilidade de num futuro próximo a decisão sobre o fim de vida de uma pessoa doente e incapacitada para decidir, possa ser tomada pela Inteligência Artificial (IA) – diga-se assistente digital? 
A questão colocada pode ser longa e parecer complexa, mas a resposta ética é simples e direta. Analisemos. Certamente muitos de nós já se encontraram em situações clínicas de familiares – pai ou mãe, filho ou irmão, avó ou avô, amigos – em que por incapacidade provocada pelo estado da doença, os próprios, não conseguem comunicar nem decidir sobre as intervenções médicas que desejam e autorizam, ou não, realizar. 
Estas situações não são raras no universo clínico e acontecem todos dias nos hospitais em que é necessário tomar uma decisão justa e fazer a melhor avaliação ética.   O profissional de saúde, o médico responsável, quando confrontado com situações limites, por norma moral e boa prática clínica, fala com os familiares para fazer a melhor avaliação ética sobre a decisão a tomar.
Se é verdade que os profissionais, nestes casos, sentem dificuldade ética em tomar a decisão, não é menos verdade que os familiares ou aqueles que possam, no momento, responder pela pessoa doente em estado de incapacidade para decidir, o conflito moral seja ainda maior. 
Como resposta a esta situação moralmente conflituante, vão surgindo, hoje, ideias que no futuro poderão ser postas em prática. Uma delas é a de que a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL de VOZ AMBIENTE – assistentes digitais que gravam toda a conversa numa consulta médica -  através de um algoritmo treinado com base em milhões de registos de doentes, em situação de fim de vida, vai analisar o conteúdo de uma conversa com o clínico e destacar conversas explícitas sobre objetivos, valores e preferências, bem como comentários espontâneos sobre a família, conversas cujo teor apenas diz respeito à intimidade e reserva da privada,  passatempos ou planos para a vida que demonstram, de facto, como a pessoa viveu.
Assim, parece evidente que num futuro próximo, com todas as implicações éticas, legais e deontológicas, que a IA, baseada na multiplicidade de informação de conversas confidenciais vai poder tomar decisões sobre o fim de vida de uma pessoa doente ou de uma intervenção, quando esta não puder ou não tiver um procurador de cuidados que possa responder por ela. Este algoritmo baseado em probabilidades vai prever se a pessoa vive ou morre, ou se lhe é feita uma intervenção ou não. 
Passivamente, assistimos sem questionarmos toda esta massificação da IA na vida de cada um de nós e, em especial, na saúde como se tudo isto fosse muito bom! Mas não é. Se há tecnologia aplicada à vida humana que é louvável, há outra que é reprovável. Uma tecnologia que decide sobre quem vive e quem morre, porque fria e humanamente dessensibilizada, não pode ter a última palavra. Se a tiver, nem que seja apenas num caso, o médico e os familiares demonstram que desistiram da sua humanidade. 
Talvez, para muitos, poderá vir a ser um alívio emocional não ter que decidir sobre qual o caminho a seguir quando um familiar se encontra num processo de fim de vida, mas não será com certeza uma decisão moralmente correta quando abandonamos a última oportunidade de desmontar o valor da vida e a reduzimos a um mero algoritmo matemático e a decisão a um assistente digital.  


Carlos Costa Gomes,  Prof. Doutor de Bioética e Ética  (ESSNorteCVP) e Embaixador/Formador do PNED 

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