22 Feb 2022
Helena Terra *
Antes de mais dou conta da minha perplexidade a propósito da declaração de nulidade dos votos dos portugueses eleitores residentes no circulo da Europa, supostamente porque não vinham acompanhados de cópia do cartão de cidadão do respetivo eleitor, quando é certo que, no circulo de fora da europa, quase todos não vinham acompanhados da copia do dito cartão de cidadão, contudo apenas serão repetidas as eleições no circulo europeu. Desculpem, mas independentemente da falta de alguns procedimentos formais, os nossos comuns cidadãos não compreendem isto, sem que os passamos criticar.
Por via desta necessidade declarada pelo Tribunal constitucional, não teremos governo tão cedo, nem orçamento antes do próximo verão. Temos um governo em gestão e uma gestão por duodécimos, numa altura em que há um PRR para executar e um vastíssimo conjunto de reformas absolutamente inadiáveis. Durante mais um mês, pelo menos, vivemos o tempo em que nos perguntamos: para que nos serve a maioria absoluta?
As últimas eleições revelaram um mapa politico partidário a que não estávamos habituados. Uma maioria absoluta de esquerda é clara. Desde logo porque é inequívoco que o PS federou os votos da esquerda, indo buscar votos ao PCP e ao BE e foi capaz de o fazer pelo anacronismo desta esquerda que encrostou num tempo histórico que já não existe e porque não é capaz de perceber a necessidade indesmentível de o pais criar riqueza, recusar a possibilidade de a criação desta riqueza vir do sector privado, a cegueira que lhes não permite ver que só com a criação de riqueza é possível aumentar os salários, erradicar a pobreza extrema e recuperar algo tão importante e que há muito deixamos de ter, uma classe média.
Deixamos de ter uma direita no panorama politico nacional. Uma direita que nos habituámos a ver protagonizada pelo PSD e pelo CDS/PP. O PSD no reinado de Rui Rio deslocalizou-se sem nunca se ter encontrado. Afirmou-se como um partido de centro ou do centrão que nunca encontrou nem lhe deu razão de ser. O CDS/PP, teve um líder simpático no contacto de rua, ou pelo menos foi o que pareceu, mas com pouca experiência para poder liderar o seu partido, tanto mais quando o seu tradicional e óbvio parceiro histórico, O PSD nunca se posicionou seriamente em sitio nenhum e depois de ter um CHEGA e uma IL.
A IL, diz-se que pode ser uma coisa da moda, um partido novo que parece oferecer um novo alento a uma juventude urbana cansada do discurso, que se consegue antecipar daquela esquerda cristalizada e que protagoniza a história famosa do camarada cassete. Pode não ser isso, ou pelo menos só isso. Desde logo porque, como já dizia Aristóteles, a natureza tem horror ao vazio e, por isso, a IL surge e ocupa um espaço que tinha sido deixado vago pelo PSD e CDS/PP.
Direi que é útil que tenhamos um novo mapa político partidário. Rui Rio deve potenciar a marcação de eleições internas com a maior brevidade, para que surja um novo líder que vai ter uma posição dificílima nos próximos 4 anos, mas que precisa de encontrar e consolidar um programa político que faça ressurgir as suas bases e as lutas que, desde sempre, elas mostraram ser capazes de travar. Quanto ao CDS é importante a eleição de um líder como Nuno Melo. É sabido que não sou simpatizante nem votante deste partido, mas conheci relativamente bem aquilo de que o Nuno Melo é capaz, porque fui deputada com ele. Nuno Melo tem um tipo e, sobretudo um tom, de discurso que pode neutralizar André Ventura. Nuno Melo é um homem de direita, mas da direita democrática que fui fundadora da democracia em que hoje vivemos, enquanto que do CHEGA, apenas se sabe que é um partido fora do sistema; mas afinal de qual sistema – do sistema democrático em que vivemos e que muito custou a conquistar.
* advogada