12 Dec 2025
O padre Albino Fernandes foi uma figura central da vida religiosa oliveirense
>Oliveira de Azeméis despede-se do Padre Albino Fernandes
Faleceu aos 91 anos o sacerdote que transformou a dinâmica paroquial e social de Oliveira de Azeméis. Deixa uma vasta obra material e imaterial, recordada com emoção pelo amigo de infância e historiador, Samuel de Bastos Oliveira.
A comunidade de Oliveira de Azeméis está de luto pelo falecimento do Padre Albino de Almeida Fernandes. O pároco emérito, figura incontornável da história local nas últimas décadas, morreu no passado sábado, dia 29 de novembro, no Lar São Miguel, após doença prolongada.
Uma vida dedicada ao serviço
Natural da freguesia de Chave, em Arouca, onde nasceu a 27 de janeiro de 1934, Albino Fernandes foi ordenado presbítero na Sé do Porto em 1957, com apenas 23 anos. Conforme relatado na obra Os Párocos de Oliveira de Azeméis, obra de Samuel de Bastos Oliveira que enquadra esta nota biográfica, antes de chegar a terras de La Salette o seu percurso passou por Cabreiros, Albergaria das Cabras e Milheirós de Poiares, onde o seu dinamismo já se fazia notar com a fundação de um jornal paroquial. Foi, contudo, em Oliveira de Azeméis que deixou a sua marca mais profunda. Tomou posse a 19 de junho de 1977, encontrando uma freguesia dividida. Através da sua simplicidade e entrega, operou o que é descrito como o "milagre" de unir a comunidade à volta da Igreja. Samuel Oliveira enfatiza que durante os 41 anos em que foi pároco (até à sua resignação em 2018), o Padre Albino foi um impulsionador incansável. No plano social e material, liderou a ampliação do Lar de S. Miguel, a construção da nova residência paroquial (inaugurada em 1991) e o restauro da Igreja Matriz. No plano espiritual, marcou gerações de jovens com os célebres acampamentos na Serra da Freita, iniciados em 1979.
O último adeus
As cerimónias fúnebres realizaram-se a 30 de novembro. A missa de corpo presente na Igreja Paroquial foi presidida pelo Bispo D. Roberto Mariz, seguindo o cortejo para Chave, onde o sacerdote foi sepultado no jazigo de família.
> Um breve testemunho do Padre Zé Manel
"Um pastor que se esgotou a servir"
Para o Padre José Manuel Lima, atual pároco de Oliveira de Azeméis, o legado do Padre Albino vê-se nos "frutos": uma "comunidade viva" e tão bem organizada que continuou a caminhar mesmo quando a saúde do seu antecessor fraquejou.
O sucessor recorda um homem que "acabou por se esgotar fisicamente" exatamente porque se entregou plenamente à missão pastoral. Ao longo de 41 anos, o Padre Albino tornou-se parte da família oliveirense, chegando a batizar os netos daqueles que tinha casado.
"Um homem muito bom, um Pastor muito simples, mas um verdadeiro Pastor", resumiu o Padre Zé Manel.
Memória do Padre Albino
Deixou-nos há dias. Conheci-o desde que assumi a redação do Correio de Azeméis aos 17 anos.
Sempre simpático, acolhedor e reconhecendo o papel da imprensa local.
Por volta do início dos anos 90, na época da febre das rádios locais, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), iniciou a compra de rádios. Uma proposta chegou também a nós. Conversámos. Ficou tranquilo quando deu conta de que jamais cederíamos a antena ou tempo de antena a entidade que não saísse do seio da Igreja Católica, que professávamos com devoção.
Falámos de reforçar a presença das nossas paróquias na ação da rádio.
E, assim, o saudoso amigo Professor Paiva foi convidado a assumir esta tarefa. Claro que o entusiasmo deste grande amigo e sempre presente nas iniciativas da nossa Fé, foi além do pedido. E, domingo após domingo, foi quem percorreu o concelho para transmitir a missa dominical, a expensas próprias e transportando inclusive os nossos técnicos. E não se limitando a este serviço criou o programa Nova Dimensão, que continua nos dias de hoje, sob a orientação do professor José Manuel.
Outros episódios lembro com o agora saudoso Padre Albino Fernandes. Sempre que nos encontrávamos, citava algo do artigo semanal que escrevia e ainda escrevo. Desejando assim mostrar que me lia.
Eduardo Costa, Diretor
>O coração doce que Gabriela Paiva conheceu por trás do rosto austero
"Quando vacilamos, lembramos a Serra"
Para quem o via de longe, a "aparência austera e rígida" podia intimidar. Mas para Gabriela Paiva, uma das jovens que cresceu sob a sua asa, o Padre Albino era o guardião de um segredo: um "coração enorme" que batia ao ritmo da felicidade dos outros.
Gabriela recorda um homem cuja exigência era apenas uma faceta de uma "espiritualidade imensa". Por trás da figura imponente, escondia-se um Pastor "doce e preocupado", cuja pergunta mais frequente não era sobre regras, mas sobre a alma: "Perguntava sempre se estavam bem, se estavam felizes".
Foi com essa ternura discreta que ele se tornou um "esteio na vida" de tantos jovens, transmitindo valores que não se apagaram com a idade adulta. O seu legado, nota Gabriela, vive nos laços que uniu: é "impressionante" como "90 por cento dos amigos que ficaram para a vida nasceram nos movimentos paroquiais" que ele nutriu com dedicação — dos coros à escola de música, passando pelos inesquecíveis dias na Serra da Freita.
Hoje, fica a saudade de uma "marca indelével". E mesmo na sua ausência, o Padre Albino continua a ser o norte de quem formou. Como confessa Gabriela Paiva, numa promessa que vence a morte: "Ainda hoje, quando vacilamos, lembramos dos ensinamentos que o Padre Albino nos transmitia no alto da Serra da Freita".
A sua voz calou-se, mas para os seus "jovens", o eco dos seus conselhos continua a ressoar na montanha, quer na penumbra de cada pôr-do-sol, quer na incandescência de cada amanhecer.
“Partiu rodeado de amor”
O adeus sereno pela mão de quem nunca esquece a sua dedicação aos jovens
No silêncio do quarto, a mão de Gracília Almeida foi uma das que amparou o Padre Albino no último suspiro. Um gesto de carinho, sob o olhar da irmã do sacerdote, para com o homem que guiou a juventude de Oliveira de Azeméis ao longo de 41 anos.
No Lar São Miguel, a despedida fez-se com serenidade. Gracília, colaboradora da instituição, viveu esse momento sagrado na companhia da irmã do Padre Albino, garantindo que ele não partisse sozinho.
Ambas seguravam-lhe cada uma das mãos quando ele deu o último suspiro. "Partiu rodeado de amor", desabafou em declarações ao Correio de Azeméis, resumindo o ambiente de paz que se viveu naquele quarto.
Enquanto lhe confortava as mãos já frágeis, a memória viajava para a força de outros tempos. Aquele gesto simbolizava também a gratidão de todos os jovens que cresceram sob a sua asa. Naquele adeus, ecoavam as memórias do padre dinâmico dos acampamentos da Serra da Freita, que transformou gerações de rapazes e raparigas em "ativos colaboradores" da comunidade.
Aquele que tantas vezes estendeu a mão para levantar os jovens, partiu amparado pelo toque de quem cuidou dele até ao fim.
"Um amigo que o tempo não separou"
O tributo de Samuel de Bastos Oliveira
Para lá da figura pública, o Padre Albino deixa um vazio pessoal em quem com ele privou de perto. Samuel de Bastos Oliveira, historiador local e autor da obra 'Os Párocos de Oliveira de Azeméis', partilhou uma nota emotiva onde recorda não o clérigo, mas o amigo de juventude.
"Fui condiscípulo do jovem Albino nos Seminários de Gaia, de Vilar e da Sé do Porto", recorda Samuel Oliveira, lembrando os tempos em que partilhavam os bancos da escola antes de seguirem rumos distintos em 1950 — um para a vida civil, o outro para o sacerdócio.
Apesar da separação de percursos, a ligação manteve-se. "Nem o tempo, nem o modus vivendi desvaneceram ou resfriaram a amizade que nos uniu", sublinha o historiador, que acompanhou de perto a "verdadeira renovação religiosa" que o amigo implementou na paróquia.
Samuel de Bastos Oliveira descreve o Padre Albino como um "Pastor modesto e muito simples", de "trato muito afetuoso e cativante", que serviu a igreja com "todas as suas forças físicas e intelectuais".
No momento da despedida, as palavras de Samuel resumem o sentimento de muitos oliveirenses.