Ana Isabel da Costa e Silva *
Defendeu-se, na edição anterior, que o espaço público deve funcionar como ligante, pois potencia a vida urbana. Para isso, o seu desenho deve ser pensado com critério, a par da construção de um conjunto de redes viárias e do fortalecimento das centralidades que, em conjunto, darão sentido à estrutura do espaço urbano.
Mas não basta propor uma estrada com passeio – sem contar com as estradas ou ruas onde nem passeio existe, mas onde o alcatrão teima em aparecer!
Sugere-se um olhar mais atento para, apenas, dois pontos da cidade, onde as ruas, com passeios, na zona central, não se encontram bem resolvidos: primeiramente, o cruzamento entre a Rua 16 de Maio com a Rua Fernando Paúl; em segundo lugar, o cruzamento entre a Rua Dr. Artur da Costa Sousa Pinto Basto com a Rua Tomás da Costa. São apenas dois exemplos demonstrativos sobre a gravidade do problema do espaço público na nossa cidade!
A construção da rede viária não poderá, simplesmente, reduzir-se à adição de estradas ou, menos ainda, através da melhoria do pavimento do canal onde circulam os automóveis. Antes de intervir, é necessário analisar, estudar, desenhar e propor como se deve intervir em determinados pontos da cidade, sem prescindir de uma ideia global orientadora de um conjunto de iniciativas.
Ao analisar, estudar, desenhar e propor torna-se possível encontrar situações análogas em outros pontos da cidade ou do concelho, onde seja possível utilizar uma fórmula de resolução semelhante, caminhando, desse modo, para a construção de uma identidade urbana. Em situações mais complexas, poder-se-á recorrer a uma equação de resolução excecional, com base no conhecimento profundo da circunstância, que possa, precisamente, dar origem a soluções-variante para resolver também outros pontos do concelho. Este olhar global, tendo em atenção o pormenor, fortalece a construção de uma identidade urbana do concelho.
Em 1982, Nuno Portas referia que, na fase de instabilidade financeira e de indefinição de competências (...), os responsáveis municipais são tentados a encomendar projetos de toda a ordem quando ainda não têm reunidas as condições de implementação que obrigariam a soluções realistas1 . Embora este comentário fosse a propósito de um tempo bem diferente do nosso, onde se aprendia, paulatinamente, a viver em democracia, entende-se que o modo de pensar não se alterou muito, de uma forma geral, a nível local.
Alguns problemas crónicos, nomeadamente na gestão e organização de prioridades, subsistem no nosso país, independentemente da cor política de quem governa. E, no nosso município, prolongam-se determinadas atuações do passado que fazem perder a competitividade do concelho para outros vizinhos.
Nós, cidadãos de Oliveira de Azeméis, não temos plano B. Nós, cidadãos deste tempo, não vamos viver uma segunda vez. Os problemas existem e terá de se encontrar coragem, por parte de quem governa, independentemente da cor política, para aceitá-los, mostrá-los às pessoas, debatendo, com elas, a melhor forma de os resolver. Mais do que promessas, queremos sentir o pulsar da decisão, baseado na realidade.
Como é possível que questões básicas do desenho do espaço público – que nos tocam a todos, sejam pessoas que vivem no centro ou nas freguesias – não tenham recolhido qualquer atenção, quando estamos a investir num parque urbano ou numa estação intermodal de transportes?
1 PORTAS, Nuno (1982). ‘Nova Política Urbana + 10 mandamentos do urbanismo municipal’. Os Tempos das Formas. Vol.1, p. 205.
* Arquiteta e docente da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, natural e residente em O. Azeméis
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