O insustentável peso do passado.

Urb@nidades - Rui Nelson Dinis

Rui Nelson Dinis *

As últimas décadas têm feito surgir uma discussão intensa sobre os temas do colonialismo e racismo. Uma discussão sobre temas estruturantes do passado, mas importante para compreender o presente e moldar o futuro.

Antiga potência colonial, Portugal foi, a par com a Bélgica e a Holanda, um dos países europeus pequenos que dominou territórios do mundo muito superiores em dimensão e população. Não deixa de ser surpreendente como foi possível, durante 500 anos, dominar colónias em continentes, a milhares de km, com territórios e populações muito maiores do que a dimensão da própria metrópole.

Não há colonialismo bom ou mau, nem racismo suave ou de rosto humano. Se o colonialismo acabou por ser uma contingência de domínio na história, o racismo foi perverso, violento e desumano. Ainda assim, o passado colonial português foi diferente e isso pode ter influência na situação do racismo em Portugal e nos países das antigas colónias.

O pior a fazer, no entanto, será enterrar a cabeça na areia, como também aceitar a generalização sobre o tema, realizado sobre outras potências coloniais. A história e o passado pesam de forma diferente.

Assim, Portugal não está salvo, na avaliação do passado colonial, à discussão sobre o racismo. Essa avaliação tornou-se moda, incentivada por Universidades de países anglo-saxónicos (EUA e Inglaterra), ampliada por grandes meios de comunicação como a BBC ou a Al-Jazeera, apoiados por setores de esquerda, ativistas sociais e militantes das agendas de género, inclusão e responsabilidade histórica. Não é uma discussão a evitar, mas é preciso que seja realizada sem o legado ideológico dos chavões adotados noutros países.

Portugal tem as suas particularidades históricas. Não existindo “racismo bom”, aqueles movimentos anticolonialistas dirigiram a sua ação à discussão sobre o racismo nos países coloniais, como se o colonialismo continuasse. Convenhamos que esses exercícios insistem em qualificar Portugal pela mesma bitola das grandes potências coloniais – Britânicos, Espanhóis ou Franceses.

No entanto, em relação ao racismo, creio que Portugal constitui uma sociedade tolerante – ainda que com problemas de racismo e xenofobia por resolver. 

Portugal foi a última das grandes potências coloniais do século XX a iniciar a descolonização. A mal ou a bem, aquela começou com a invasão de Goa, Damão e Diu, ocupados pela força pela independente União Indiana, perante um regime de Salazar completamente incapaz de assumir a fatalidade histórica do fim do colonialismo, na segunda metade do século XX.

Mas, em verdade, Portugal foi também a primeira antiga potência colonial do ocidente a dar independência ou conceder independência total a todas as nações e territórios integrantes, desde 1975, terminando em 1999 com a entrega de Macau à China e, em 2002, com a independência total e definitiva de Timor-Leste - o mais jovem país do século XXI e cuja independência foi desígnio da Constituição Portuguesa.

Enquanto isso, a falecida Rainha Elisabete II da Inglaterra morreu a reinar em 16 países e territórios de três continentes; a França, Holanda e Espanha, mantêm charmosas “províncias ultramarinas” e territórios pelos vários cantos do mundo e esses países europeus mantêm excertos político-estratégicos perdidos um pouco por todo o lado, alguns bem perto, como o Reino Unido sobre Gibraltar, Espanha sobre Ceuta e Melilla, ou o abandono do Saara Ocidental. 

O exemplo tardio de Portugal não foi seguido noutros pontos do mundo, sendo inúmeros os conflitos de posse em variadas geografias. As grandes potências (algumas delas nascidas ironicamente do infortúnio do colonialismo) prosseguem conflitos de domínio colonial. Os EUA compraram territórios através da propriedade ou em leasing e a China desenvolveu novas formas domínio de territórios estrangeiros sob a forma de “sales lease back”. A grande diferença é que pagaram para isso.

Em África, alguns novos países independentes, restauraram o esclavagismo, instituíram a violação dos direitos humanos, a exploração dos seus cidadãos e a perseguição de minorias (étnicas, religiosas ou sociais). O Daesh ocupou territórios em diversos países do médio oriente, em nome do Estado Islâmico, cortando a cabeça a crianças de 10 anos. Ninguém parece mostrar grande incómodo sobre isso em vários círculos políticos ou intelectuais da Europa ou dos EUA.

Se é certo que ainda há muito a fazer no combate ao racismo, tem sido inútil recorrer ao seu peso histórico para querer fazer justiça com o passado colonial. Infelizmente, os caminhos seguidos por muitos dos países emergentes, foi de guerra, atrocidades e violações dos mais elementares direitos humanos – sendo que alguns deles sofreram mais dos governos das independências em algumas décadas, do que os males infligidos em vários séculos de história. 

O (neo)colonialismo moderno dá para todos os gostos, mas o melhor é continuar a falar do que já terminou e revolver as entranhas ao caixote do lixo da história.

  (comente em: dinis.ruinelson@gmail.com)

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