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Correio de Azeméis

16 May 2023

“O meu pai morreu à espera”

Bilhete Postal

Eduardo Costa *

O homem deu entrada no Hospital Santos Silva em Vila Nova de Gaia num domingo, para uma cirurgia ao coração, que aconteceria na terça-feira seguinte. Neste dia, foi levado da enfermaria para o corredor de acesso ao bloco operatório. O homem estava sem roupa no corpo e o corretor era bastante frio. Esteve ali três horas. Ao fim desse tempo foi reconduzido para a enfermaria, pois a cirurgia só ia acontecer no dia seguinte.

Desorganização? Menos respeito pelo estado debilitado dos pacientes? Insensibilidade perante o ser humano, que não é um número? 
“Queremos um SNS em que o cidadão verdadeiramente possa confiar”. São palavras do recém nomeado para o (novo) cargo de diretor executivo, Fernando Araujo, ex-presidente do CA do Hospital de São João, do Porto. Disse mais: “[temos de] mostrar aos portugueses que o valor que colocam com os seus impostos no SNS é traduzido depois em resultados na saúde”. Vai mais longe. Assume corajosamente que “os mais pobres continuam a ter mais doença e a morrer mais cedo”! Portanto, isso significa que o gestor do SNS conclui que, para termos bons cuidados de saúde temos que ter dinheiro para pagar aos privados. 
Fernando Araújo revela um testemunho pessoal de uma filha que se sentia triste e acreditava que, se o pai tivesse sido operado, ainda estaria vivo. “O meu querido pai faleceu, tinha 85 anos, mas era o meu pai. Aguardava uma cirurgia no seu hospital e morreu à espera”, disse-lhe a magoada mulher. 
Oxalá o degradado e doente SNS tenha cura! Para o bem da saúde de todos nós. 
 
* jornalista, presidente da  Associação 
Nacional da Imprensa Regiona

 

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