17 Nov 2022
Urb@nidades - Rui Nelson Dinis
Rui Nelson Dinis
A 9 de novembro 2022 passaram 33 anos da queda do Muro de Berlim, talvez o mais importante dos dias da minha geração.
Estava próximo do acontecimento, por mero acaso, na companhia do meu amigo e colega Joao Pedro, a poucas horas de condução entre a fronteira belga e Berlim, quando o Muro começou a ser derrubado. Andávamos a trabalhar na melhoria do Programa Erasmus, um dos mais bem-sucedidos programas da Europa, que promove a mobilidade entre as Universidades.
Eramos então jovens universitários a iniciar os vinte anos e fomos surpreendidos com os acontecimentos em novembro de 1989. Foram organizadas viagens para Berlim, para ajudar a partir o Muro. Estivemos para embarcar. Mas hesitámos, porque tínhamos viagem marcada de regresso a Lisboa, sem possibilidade de adiar o voo. Tínhamos receio de não chegar a tempo. E não tínhamos dinheiro para novos bilhetes.
Mal nos apercebemos da importância histórica daqueles dias, mas tudo o que se sucedeu, parecia até então, apenas um sonho distante. Não deixamos de festejar, com gente de toda a Europa, reunida então em Lovaina e Bruxelas.
Era o fim da guerra fria e da ameaça, do fim-do-mundo nuclear. No meio de tudo, senti uma estrondosa tranquilidade: não haveria terceira guerra mundial e o Mundo já não ia mais acabar. A partir de então, seria finalmente o tempo de tudo se poder construir num futuro eterno de paz e liberdade para o planeta.
Começava uma nova era para a humanidade! Era assim que víamos o futuro, por entre a alegria e euforia de milhares de europeus, a queda do Muro de Berlim. Fui a Berlim, depois disso, apenas em 2008, para correr a Maratona e conhecer a cidade. Que me deixou impressionado, ainda com visíveis diferenças entre as antigas partes Leste e Oeste da cidade.
O tempo mostrou que a nossa geração ficou embriagada de felicidade e adormeceu, num sono de liberdade. Mas hoje, mais que nunca, percebemos que nada está garantido. A paz, a liberdade e a democracia estão em crise e debaixo de ameaça. Novos extremismos e movimentos populistas autoritários erguem-se para impor novos muros à liberdade.
É tempo de acordar e cumprir aqueles sonhos, muitos por realizar, senão para todos, pelo menos para muitos. Não por nós, mas pela felicidade dos que se nos seguem. Porque a Liberdade e a Paz, esses bens maiores, nunca estão garantidas.