6 Jan 2025
Martinho Oliveira, diretor da ESAN, no ‘ADN Oliveirense’
Recentemente, no programa ‘ADN Oliveirense’ da Azeméis TV/FM, com Helena Terra, Martinho Oliveira foi o ilustre oliveirense convidado para falar sobre si e a sua obra em prol de O. Azeméis, nomeadamente, no setor da educação e do ensino superior. Desde 2004 que é diretor da ESAN, que se iniciou no edifício Rainha, onde mais tarde ganhou estrutura própria. Os projetos são muitos e o crescimento de um campus universitário e a criação de uma fábrica do futuro, são as principais ambições, tendo sempre em foco a qualificação e formação dos alunos, numa região altamente industrializada.
“O nosso principal motivo para estar cá é exatamente o setor industrial” “Eu já estou nesta escola e neste projeto desde 2002, quando começámos com a oferta, no edifício Rainha, e na altura tivemos muito trabalho a fazer para implementar a génese daquilo que era e que está a ser hoje esta escola. Naturalmente, na altura já tínhamos esse sonho de ter verdadeiramente uma unidade orgânica da Universidade de Aveiro (UA), com o padrão e a qualidade que a UA habituou a população portuguesa, sempre foi esse o nosso desígnio. Continuamos muito empenhados em fazer crescer a UA nesta região. (...) Até quando? Até onde? Bom, até quando e onde os oliveirenses e o tecido empresarial de O. de Azeméis e da região quiserem. O nosso principal motivo para estar cá é exatamente o setor industrial, o setor transformador desta região.”
A falta de mão de obra qualificada. “Para termos um produto, temos de ter uma matéria prima. Eu para formar pessoas na UA e na escola, precisamos de pessoas jovens. Jovens ou menos jovens, mas precisamos de pessoas. E isso não é fácil de encontrar. Nós temos áreas que as empresas até procuram mão de obra, mas não temos pessoas para recrutar. Podíamos estar em algumas áreas mais confortáveis se tivéssemos mais pessoas a procurar determinados tipos de curso que até nos poderia eventualmente permitir abrir outras tipologias, dedicados ainda mais ao setor empresarial. Mas, de facto, nem sempre este chão de fábrica é atraente e, portanto, os jovens vão procurando cursos que não são aqueles que têm maior empregabilidade e tendem a ir para o exterior. Portanto, nós precisamos realmente de reter.”
A atração de mão de obra qualificada jovem e estrangeira. “Trabalhamos projetos concretos com empresas aqui da região e, ao abrigo desses projetos, vamos formando doutorados, mas estamos também a trabalhar com algumas empresas no sentido de termos uma estratégia para captar pessoas de fora que possam vir para esta região trabalhar e, ao mesmo tempo, se fixem e que estudem cá. Estamos claramente a pensar em jovens na casa dos 16, 17, 18 anos, que estão desejavelmente a terminar o 12º ano, ou o equivalente ao 12º ano, e que possam vir para Portugal fazer o nível superior de estudos, trabalhar numa empresa e conseguir progredir dentro da empresa.”
A indústria do vidro e a Quinta do Côvo criaram o ADN Oliveirense “Oliveira de Azeméis e a génese do empreendedorismo tem muito haver com aquilo que se passou no século XVI com o Côvo. O Côvo é um património inacreditável que o Oliveira de Azeméis tem. (...) O Côvo tem um grande interesse do ponto de vista histórico e da construção do ADN Oliveirense. Aqui devia-se respirar vidro. Porque foi o vidro que moldou esta cidade e esta região. (...) O vidro é um material absolutamente brilhante, fascinante. É talvez o segundo/terceiro material mais usado no mundo.”
D. João III, o responsável por “moldar para sempre este concelho”. “Eu tenho este gosto por este tema e tenho vindo a dedicar-me já há alguns anos sobre a história do desenvolvimento do vidro. Quando D. João III dá o privilégio a um galego, Pedro Moreno, este dá-lhe uma autorização de instalar uns fornos para fazer vidro. Ao fazer isto, ele vai moldar para sempre este concelho. A fábrica do Côvo, que teve quatro séculos a funcionar, veio dar origem depois a um conjunto de fábricas que acabou por culminar no Centro Vidreiro do Norte de Portugal, que infelizmente também já terminou, mas nesta herança toda, vem a fileira dos moldes”
“Nós não podemos viver sem plástico” “Há aqui uma natural evolução deste tal ADN industrial que está associado aos oliveirenses. Passamos efetivamente para o molde e do molde para o plástico. São os plásticos que vêm inundar o que é hoje a nossa vida. De facto nós não sabemos viver sem plástico. Não podemos viver sem plástico. (...) É um material tão democrático que realmente dá acesso. O plástico não tem culpa nenhuma. A culpa tem a nossa atitude perante o mesmo. Porque o plástico é um material tão digno como todos os outros, mas tão barato que qualquer pessoa, rica ou pobre, pode meter no lixo e pode descartar sem problemas absolutamente nenhuns. E esse desprezo pelo material que vem da cultura do ser humano é que torna hoje este material como um material quase maligno.”