23 Oct 2025
> Paulo Monteiro
As eleições autárquicas de 12 de outubro deixaram no concelho de Oliveira de Azeméis e no país um retrato que mistura estabilidade e mudança. A democracia continua viva, mas o desinteresse com que parte significativa dos eleitores encara o ato de votar é um sinal preocupante. Uma abstenção de 40,14% é mais do que um número: é o espelho de uma democracia que envelhece, talvez cansada de promessas que se confundem com slogans e de políticas que parecem distantes do quotidiano das pessoas.
Em Oliveira de Azeméis, o Partido Socialista voltou a merecer a confiança dos eleitores, garantindo a maioria na Câmara Municipal com 47,19%. É um voto de continuidade, mas também um voto que carrega expectativas renovadas: a de que a estabilidade sirva de trampolim para decisões mais ousadas e políticas mais próximas da população.
A coligação AD manteve a sua representação, enquanto o Chega conquistou um mandato, um sinal claro de que há um eleitorado em busca de alternativas, de vozes que rompam com o discurso tradicional. Essa nova pluralidade promete um debate político mais vivo, mas também exigirá maturidade democrática para que a divergência não se transforme em ruído.
Na Assembleia Municipal, o PS não terá vida fácil: a minoria obrigará ao diálogo e à construção de consensos. É, afinal, o grande teste de qualquer democracia madura, saber governar com os outros, e não contra eles.
O mapa das freguesias confirma o mosaico político local: movimentos independentes que resistem, vitórias alternadas entre PS e AD, e a aplicação da nova lei eleitoral que separou freguesias como Pindelo e Nogueira do Cravo. São detalhes administrativos, mas que refletem dinâmicas de proximidade e identidade local.
A nível nacional, o país desenha-se com as mesmas cores cruzadas: o PS resiste, o PSD expande-se, e os partidos menores conquistam espaços de influência. A política portuguesa, hoje, é um patchwork, um tecido de tons contrastantes, por vezes dissonantes, mas que ainda forma um todo coerente.
Daqui a quatro anos, esse tecido voltará a ser redesenhado. A questão é saber se, até lá, conseguiremos costurar não apenas as cores partidárias, mas também o fio da confiança cívica que, eleição após eleição, parece desfiar-se um pouco mais.
Paulo Monteiro