28 Mar 2025
Júlio Grilo é o diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes Plastics, estando desde 1995 na empresa.
>Júlio Grilo, diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes Plastics
A inovação é um dos pilares da Simoldes Plastics, estando sempre aliado à sustentabilidade, conforme explicou Júlio Grilo, diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes.
“A Simoldes é uma das fundadoras do Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros, em Guimarães. E esse polo de inovação, tem, desde há 2/3 anos, vindo a promover pelo país ações de esclarecimento relativamente à potencial nocividade dos plásticos”, começou por referir o diretor da Simoldes, tendo acrescentado que “foi definido pela administração que a sustentabilidade é um eixo e um valor dentro da Simoldes. Temos investido muito tempo e dinheiro em projetos ligados à sustentabilidade que é para cada vez mais, os produtos que fazemos integrarem mais material reciclado”.
“O problema não é o plástico, é a sociedade”
Para Júlio Grilo, a conetividade negativa associada ao plástico, não passa pelo produto, mas sim pela sociedade. “Eu acho que o problema não é o plástico, o problema é a sociedade, a forma como trata o plástico no fim de vida do produto. Hoje, praticamente tudo que é plástico é descartável. Ninguém o reutiliza ou procura reusar. E é mais fácil, porque é muito barato, é mais fácil deitá-lo para o lixo. Se não houver uma estratégia, se não houver um princípio de circularidade económica, com o grau de consumo que hoje temos nas nossas sociedades e o crescimento demográfico, não é só um problema de poluição que está em causa, é um problema também de escassez dos recursos naturais para sustentar todo esse crescimento”, afirmou o diretor da Simoldes.
Programa Boost
Com o objetivo de dinamizar e incrementar a utilização dos materiais reciclados, a Simoldes Plastics criou em 2021, o programa Boost. Desenvolvido pela Inovação da Simoldes, em conjunto com as restantes fábricas do grupo, o programa começa agora “a dar resultados”. “Nós teremos agora já em 2026, os primeiros carros com materiais reciclados”, afirmou Júlio Grilo, diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes.
Os principais objetivos do programa passam por “trazer para o mercado materiais com menos pegada carbónica, como é que nós conseguimos fazer isso? Integrando nos materiais fósseis uma determinada percentagem de material reciclado, mecanicamente, que pode ter duas origens: pós-consumo ou pré-consumo. O mais fácil é integrarmos material de origem pré-consumo, porque as propriedades do material são melhores. Mas depois começamos a ver uma tendência do mercado em que preferem o material pós-consumo. Hoje em dia temos cerca de 80 materiais validados”, reiterou o diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes.
A produzir para clientes como Volkswagen, Seat, Skoda, BMW, Toyota, Renault e o grupo Stellantis, Júlio Grilo faz um balanço agridoce destes quatro anos do programa. “É um sentimento agridoce, porque quando iniciámos isto, tínhamos uma expectativa de chegarmos ao fim de 3/4 anos com uma grande incorporação dos materiais, mas como são todos mais caros, temos uma dificuldade no mercado. Temos que perceber, se quisermos reutilizar os materiais para produzir outros produtos, isso fica mais caro do que fazer materiais virgens e essa não era a expectativa que havia. Se a sociedade, os consumidores, não estiverem prontos para pagar esta produção de pegada carbónica ou esta descarbonização, nós não vamos conseguir introduzir esta economia circular”, explicou o diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes, Júlio Grilo.
“Eu acho que nenhum de nós consegue imaginar a vida sem os plásticos”
Para o diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes, Júlio Grilo, os plásticos são um material de extrema relevância na sociedade, afirmando que “eu acho que nenhum de nós consegue imaginar a vida sem os plásticos”. Para além das inúmeras vantagens a nível de produção como por exemplo durabilidade, preço e flexibilidade, há outra vantagem destacada por Júlio Grilo: o processo de reciclagem do plástico é “fácil e barato”. “Se há um material que é fácil de reciclar, barato, económico e rápido, é o plástico, porque não necessita de muita temperatura para ser reciclado. Basta fazer reciclagem mecânica para reaproveitar o plástico e voltar a entrar na vida dos produtos”, explicou o diretor da Simoldes.
Descarbonização está num “processo de transição”
A Simoldes Plastics confessa que tem apresentado candidaturas para projetos financiados pelo governo no sentido trabalhar temas como a descarbonização, a economia circular e a sustentabilidade, com Júlio Grilo a referir que atualmente “estamos num processo de transição e como todos os processos de transição isto não é do zero para o um muito rapidamente”, tendo expetativas na nova geração “que está a chegar, que tem uma consciência diferente de uma geração em que os conceitos da sustentabilidade não eram tão fortes. Eu acho que daqui a 20 anos será completamente diferente”, apontando para estudos que preveem que em 2040, cerca de 80% dos resíduos de plásticos serão incorporados em novos produtos.
Mudanças no fim de vida dos automóveis poderá “ter impacto enorme”
Com uma forte produção para a indústria automóvel, a Simoldes Plastics encontra-se sempre atenta às mudanças que vão surgindo nas diretizes europeias. Uma dessas futuras alterações passa por um novo fim de vida aos veículos, conforme explicou Júlio Grilo. “Há uma [política nova da Comissão Europeia] que eu acho que vai ter um impacto enorme, que é a nova diretiva comunitária europeia relativamente ao fim de vida dos veículos. O que está a ser preparado é que todos os veículos desenvolvidos e produzidos na Europa a partir de 2030 ou 2031, vão ter que ter uma determinada percentagem de materiais reciclados. E no caso dos plásticos, o que está ao dia de hoje a ser discutido é cerca de 20% de materiais reciclados pré-consumo ou pós-consumo e desses 20%, 15% têm que ser originários dos veículos em fim de vida. Isto quer dizer que nós temos cinco anos para introduzir o conceito de ecodesign no automóvel, de forma a conseguir desmantelar os carros de maneira mais económica do que a atual para depois transformar e voltar a introduzir no veículo”, referiu o diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes, tendo dado a informação de que atualmente “as únicas peças que são recuperadas para serem recicladas e reaproveitadas são os para-choques. Esta é a realidade do fim de vida dos automóveis”.
No entanto, a Simoldes Plastics está a trabalhar em novos projetos de inovação que permitem “desenvolver produtos monomateriais que no fim de vida dos automóveis possam ser recuperados”, acrescentando que essas peças “só serão reutilizadas daqui a 15 ou 20 anos”, que é a média do tempo de vida de um automóvel.
A importância de mudar o mindset
Apesar dos esforços que a indústria dos plásticos, nomeadamente a Simoldes Plastics, se encontra a fazer no sentido de tornar a indústria mais sustentável ambientalmente, esta mudança só será possível se “o consumidor final as valorizar”. “As empresas só vão conseguir ter soluções se depois o consumidor final as valorizar. Porque se não as valorizar, nós não vamos ter sustentabilidade económica para as produzir. E é esta mudança do mindset que eu acho que também está a acontecer. É um processo de transição que vai demorar tempo”, começou por referir Júlio Grilo, tendo confessado que receia também como “é que as outras regiões do globo vão reagir a todas estas políticas de economia circular, de descarbonização”, onde “estes valores não são partilhados”.
Produção com materiais reciclados já acontece desde 1995 na Simoldes
Funcionário na Simoldes desde 1995, o diretor de Pesquisa e Inovação da Simoldes, Júlio Grilo refere que já desde essa altura que “a Simoldes produz peças com materiais reciclados. O contexto é que era diferente. Na altura era um material menos nobre e mais barato. Ao dia de hoje o contexto é completamente diferente. Hoje produzir com materiais reciclados é mais caro, mas é mais chique”.
Com uma forte produção para a indústria automóvel, a Simoldes Plastics encontra-se sempre atenta às mudanças que vão surgindo nas diretizes europeias.
A Simoldes Plastics produz atualmente para clientes como a Volkswagen, Seat, Skoda, BMW, Toyota, Renault e o grupo Stellantis.
São várias as ações que a Simoldes Plastics tem levado a cabo no sentido de tornar a indústria dos plásticos mais amiga do ambiente.
Com o objetivo de dinamizar e incrementar a utilização dos materiais reciclados, a Simoldes Plastics criou em 2021, o programa Boost.
“Há uma [política nova da Comissão Europeia] que eu acho que vai ter um impacto enorme, que é a nova diretiva comunitária europeia relativamente ao fim de vida dos veículos. O que está a ser preparado é que todos os veículos desenvolvidos e produzidos na Europa a partir de 2030 ou 2031, vão ter que ter uma determinada percentagem de materiais reciclados”
“Eu acho que nenhum de nós consegue imaginar a vida sem os plásticos”
“As empresas só vão conseguir ter soluções se depois o consumidor final as valorizar”