30 Oct 2025
> Opiniao
Não há dúvida que a Inteligência Artificial (IA) é tema “do dia” e do nosso dia-a-dia. Através dela temos a vida facilitada, ora sugere-nos uma música, um filme, ora emite relatórios automáticos e analisa dados, ora programa e inventa softwares, organiza temas e até ideias. Ela vai acedendo aos nossos perfis, conhecendo os nossos gostos, e impacta-nos cada vez que falamos de algum tema com alguém, e pouco tempo depois lá esta esse tema nas aplicações das redes sociais e motores de busca.
Bem a propósito desta bagagem e versatilidade da IA, há dias ao percorrer o caminho até casa, e com a habitual algazarra no carro na escolha de uma música, em voz alta a IA fala com o meu filho e em vez de lhe sugerir uma música, conta-lhe uma anedota. Incrivelmente todos nos rimos. Depois disto seguiu-se mais um pedido de uma piada atrás de outra. Naquele momento pensei: será este o futuro dos meus filhos? Estaremos a substituir-nos lentamente pelo silêncio, face á oportunidade de sermos nós a contar a anedota? Mas será que a IA pode substituir tudo?
É verdade que a IA está a transformar setores inteiros, desde a indústria, ao setor alimentar, aos cuidados de saúde e até a gestão de lares e outras respostas sociais. Podemos monitorizar em tempo real rotas, sinais vitais, cozinhar com robots, controlar horas, organizar horários, antecipar riscos.
Mas ainda existe algo que nenhuma máquina é capaz de substituir: o toque humano, a empatia, a presença real. Diria mais, não substitui emoções nem consciência. Até pode simular empatia, mas não sente. A IA não é capaz de compreender a profundidade de uma lágrima ou de um genuíno sorriso. As relações humanas são feitas de afeto, paciência, e intuição, qualidades que não se programam.
Quando cuidamos de alguém ouvimos histórias, percebemos silêncios, damos conforto num momento de tristeza, e até solidão. É nos olhares que acolhem e nas mãos que confortam que percebemos que o Ser Humano é incrível. Afinal nem tudo IA substitui.
Como não nos vamos “ver livres” da IA, é tempo de darmos as mãos á tecnologia, e talvez o nosso grande desafio, será perceber como é que a IA nos pode dar tempo, para que tenhamos mais tempo para cuidar e partilhar aquilo que não é programado!
Ana Correia, Mestre em Educação de Adultos e Intervenção Comunitária; Gestora da Qualidade; Atleta do Núcleo de Atletismo de Cucujães