Helena Terra *
Encruzilhada é o estado a que chegámos no panorama político nacional. Temos um governo com maioria absoluta, mas tolhido de casos e casinhos. Ministérios que, do ponto de vista operacional, não existem. Os principais serviços do Estado, estão numa situação de rutura.
O serviço nacional de saúde vive dias difíceis, porque não há incentivos nem reconhecimento pelo papel fundamental dos seus profissionais, nomeadamente ao nível remuneratório e não há investimento em geral no SNS.
A escola pública vive uma crise de identidade e de estratégia de presente e de futuro. Depois dos anos de pandemia, com as limitações de ensino presencial, muito havia a recuperar, mas continuamos limitados pelas sucessivas greves e total indefinição do que queremos. Que ensino queremos? Queremos professoras burocratas ou professores a desempenhar a nobre função de ensinar e formar gente?
A justiça vive, há já muito tempo, com as limitações das greves dos senhores funcionários que se têm vindo a sentir e que não parecem ter fim à vista. As pendências aumentam e, quer os cidadãos em geral, quer os empreendedores em particular, não confiam na justiça que é feita no nosso país.
Era tempo, mais que tempo, de aproveitarmos um governo maioritário ao qual pudéssemos reconhecer, hoje, um ímpeto reformista e recordar, amanhã, pelas reformas, finalmente, operadas e de que o país tanto precisa.
Em vez disso, o governo dá à imprensa títulos bombásticos e alimenta a desconfiança dos cidadãos na classe política em geral o que é, como se sabe e se tem visto, terreno fértil para o crescimento de partidos populistas e antidemocráticos de extrema-direita.
O atual governo está fragilizado, apesar de o primeiro-ministro ter feito questão de transmitir ao Presidente da República que quem manda no governo é ele e mais ninguém. Resolveu “bater o pé” a Marcelo com o pior dos sapatos que não quis descalçar, de seu nome João Galamba.
Esta foi uma posição de força que está à mercê da bomba atómica que é a Comissão de Inquérito ao caso TAP e que, certamente, esta semana ficará com o rastilho muito mais curto, atentos os agendamentos já conhecidos…
O partido que detém a maioria no governo tem de ter a firmeza necessária para, na sede e pelos meios próprios, decidir que faz falta no cenário político partidário a honra e as pessoas que a valorizem, tal como valorizam os valores e os princípios que cumprem o interesse público, deixando de lado interesses egoísticos, assentes em projetos pessoais de poder.
No cenário político partidário, fora do partido do governo, não se vê alternativa credível e viável, por isso, resta ao PS cumprir e fazer cumprir a responsabilidade que os portugueses, há cerca de um ano, lhe deu nas urnas. É o PS que no seu seio tem de encontrar soluções.
* Advogada