13 Mar 2024
No ‘Dia Internacional da Mulher’, a Azeméis TV/FM procurou perceber e transmitir a todos os seus leitores, ouvintes e telespectadores o que sentem algumas das protagonistas do poder local do nosso concelho.
No ‘Dia Internacional da Mulher’, a Azeméis TV/FM procurou perceber e transmitir a todos os seus leitores, ouvintes e telespectadores o que sentem algumas das protagonistas do poder local do nosso concelho.
Nos estúdios da Azeméis TV/FM estiveram as vereadoras do atual executivo, Ana Filipa Oliveira, Carla Rodrigues e Inês Lamego e a presidente da Junta de Freguesia de Macieira de Sarnes, Florbela Silva. Constança Melo, presidente da Junta de Freguesia de Carregosa, e Susana Mortágua, presidente da União de Freguesias de Pinheiro da Bemposta, Travanca e Palmaz não puderam estar presentes. Como mote de conversa a pergunta surgiu: ‘sentem que as pessoas ainda olham de maneira diferente quando cargos políticos são exercidos por mulheres?’ A resposta foi quase consensual. A lei da paridade veio garantir a presença de um maior número de mulheres em cargos políticos, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
“Nós somos, ainda, uma sociedade conservadora que continua a imputar à mulher muito um papel de responsabilidade na família, ou de primeira responsabilidade naquilo que é de ir buscar os filhos, preparar as coisas em casa, organizar o lar. Essa concepção daquele que é o papel da mulher na comunidade felizmente tem mudado, mas muito também à custa daquilo que têm sido imposições ou determinações que a lei tem trazido para os dias e que vão obrigando, de facto, a esta incorporação das mulheres em, também, cargos políticos. Isto não acontece só na política, acontece em lugares de topos empresariais e acontece em muitos setores da sociedade onde, de facto, quando é preciso escolher entre homens e mulheres, as mulheres têm que dar muito mais prova daquilo que é a sua capacidade. Enquanto mãe de dois filhos, esposa e filha, sinto muitas vezes esse conflito interior por ter um trabalho que não raras vezes me obriga a ficar até tarde, que me impede muitas vezes de ir levar ou buscar os meus filhos à escola. No fim do dia acho que estou a fazer o certo, mas esse autoconceito assumo que o tenho relativamente presente."
Inês Lamego, vereadora da câmara municipal
“Nós vivemos numa sociedade, ainda, muito machista. Na política também. A Assembleia da República não é diferente da sociedade porque na Assembleia da República quem lá está são representantes da sociedade e portanto são o seu reflexo. Se também há machismo na Assembleia da República? Há, aliás basta nós olharmos para o que era o parlamento durante anos e anos, nós encontrávamos meia dúzia de mulheres. Só por força da lei da paridade começaram a surgir mais mulheres na Assembleia da República. Só o facto de Portugal precisar de ter a lei da paridade, só demonstra como a nossa sociedade funciona mal. Eu estive a reparar e nas lista dos principais partidos que concorreram às eleições [de 10 de março], a maior parte delas tem homem, homem, mulher, ou seja as mulheres estão posicionadas no 3º, 6º e 9º lugar. No meu partido [PSD] são poucas as mulheres cabeças de lista por distrito. Se não houvesse a lei da paridade estas listas teriam muito menos mulheres”.
Carla Rodrigues, vereadora da câmara municipal
“Eu senti mais dificuldade em 2008, quando fui para o executivo, do que quando fui para presidente. Fui a primeira mulher a exercer funções num executivo em Macieira de Sarnes. Sentia que a população reconhecia-me valor, capacidade, mas eu era a Flor. Mas também a população sabia que com 16 anos formei uma equipa de futebol feminino em Macieira de Sarnes. Reconheciam-me capacidade, valor, perseverança e persistência. Sabiam que estaria ali para trabalhar e defender os interesses da nossa freguesia. Curiosamente, enquanto presidente, as pessoas que não são de Macieira de Sarnes e vão à junta de freguesia falam primeiro para os meus colegas, que são homens. É nisso que temos que trabalhar."
Florbela Silva, presidente da Junta de Freguesia de Macieira de Sarnes
“Não diria que há uma desvantagem, mas existem sempre barreiras que temos que ultrapassar quando é uma jovem a assumir um cargo, tão jovem, um cargo que muitas vezes não é exercido por mulheres. Ainda para mais sou arquitecta, o que não é comum, por norma é um advogado ou um jurista neste cargo e é algo que temos vindo a combater e tentar, com uma linguagem mais semelhante à dos investidores e o facto de que a mulher também pensa, toma decisões e essas decisões têm que ser respeitadas.Há um caminho que tem de ser feito. Numa fase inicial não é fácil, mas com o tempo as coisas vão amadurecendo. Eu não posso responder pelas pessoas, mas sente-se sempre essa dificuldade e vou partilhando esta experiência com algumas amigas que estão noutros ramos, com grandes cargos, sobretudo ligados à saúde e aos recursos humanos e elas próprias sentem essas dificuldades.”
Ana Filipa Oliveira, vereadora da câmara municipal