Albino Pinho
Acabara de enviuvar. A casa — moderna para a época em que fora construída — já não lhe oferecia conforto algum; tornara-se grande demais para apenas uma pessoa. Erguera aquelas paredes com as poupanças de uma vida inteira de trabalho na Europa Central, muitas vezes renunciando a pequenos prazeres para garantir um futuro seguro.
Depois da partida da companheira de sempre, o seu olhar perdera o foco e as palavras deixaram de lhe acudir. Amigos não eram muitos; restavam alguns irmãos fiéis, também regressados de uma numerosa família de emigrantes, que tudo faziam para lhe dar ânimo e sentido a essa nova etapa da vida. Mas o grande dilema agora era encontrar coragem para permanecer ali, sozinho, ou regressar à terra onde jamais imaginara ficar — hipótese distante, quase irreal, mas a única que ainda o aproximaria da família que deixara para trás.
Foi ali que nasceram os filhos, e ali também os netos. Ainda assim, mesmo para eles, a vida já não era o que fora; regressar às origens dos progenitores acontecia apenas nas férias de verão, e muito raras vezes.
Todos os Natais, na simplicidade que sempre o guiara, enfeitava a casa com o mesmo carinho de outrora. Mas aquele ano era diferente. Faltava-lhe a motivação, faltava-lhe a luz que antes nascia no sorriso dela. E, embora a árvore continuasse erguida no canto da sala, algo essencial permanecia ausente — como se o espírito do Natal tivesse partido com ela, deixando-lhe apenas o silêncio e a memória a arderem devagar dentro do peito.
* Colaborador