1 Aug 2022
António Magalhães
Chegado a Oliveira de Azeméis, o Dr. António Simões dos Reis, oriundo de Condeixa, dinamiza o núcleo local do Partido Progressista, que cresce rapidamente, e apesar da resistência inicial acaba por aceitar, em 1880, a candidatura à Câmara, que vence com maioria. No curto mandato de dois anos o concelho conheceu um dos períodos mais dinâmicos da história de mais de dois séculos, devendo-se-lhe uma vastíssima obra em que sobressai, talvez, a construção de estradas a ligar-nos aos concelhos vizinhos. De recordar que lhe coube a tarefa da reconstrução das várias pontes destruídas pelas arrasadoras cheias de 1879.
Jurista de renome, parlamentar, jornalista – fundador, em 1880, do “Jornal do Povo” – Simões dos Reis, apesar de falecido aos 63 anos, teve uma vida preenchida, que só não foi mais longe por declinar, reiteradamente, a ida para Lisboa, onde lhe acenavam os mais altos cargos na direcção do Partido Progressista… possivelmente na governação do país.
Quando, hoje, persiste incerto o futuro da Linha do Vale do Vouga, oportuno evocar um trabalho seu, publicado, há cerca de 130 anos, no jornal que fez nascer. Após a batalha política que conduziria, em 1908, á inauguração da linha, o Dr. Simões dos Reis sonhava mais alto, escrevendo então:
“Uma sociedade, organizada na Bélgica, está disposta a construir, em Portugal, 500 km, pelo menos, de via-férrea de um sistema de construção simples e com carácter local e popular. O representante dessa sociedade fez já o pedido de concessão e incluiu no dito pedido a linha de Castelo de Paiva por Oliveira de Azeméis a Ovar. Como se vê, a linha férrea terá o seu entroncamento nesta vila com a Linha Férrea do Vale do Vouga, abrindo assim comunicações com o vale de Cambra e o vale de Arouca com a Linha Férrea da Companhia Real em Ovar, e também, se a linha tiver, como deve ter, uma ligação para a praia do Furadouro e com a Ria de Aveiro por uma estação no Carregal.
Esta linha deve, além do importante melhoramento que representa para os quatro concelhos que vem beneficiar, dar um lucro vantajosamente remunerador para a sociedade construtora, porque é enorme o movimento de passageiros e de mercadorias que a linha férrea vem aproveitar. Do vale de Cambra e do vale de Arouca saem os excelentes vinhos verdes para este concelho e para o de Ovar, vindo assim a nova linha abrir uma saída mais fácil não só para estes pontos, como também para os novos centros de consumo, o que igualmente sucederá com os cereais e outros produtos agrícolas.
A nova linha terá também um aumento de concorrência de banhistas à praia do Furadouro, facilitando e tornando baratos os transportes. A cal, terra e sal, que até Arouca são conduzidos em carros de bois, terão um fácil transporte pela via-férrea, tendo no Carregal um lugar cómodo para embarque e desembarque de mercadorias conduzidas pela ria”.
Passados longos 130 anos, tudo mudou. A não ser o isolamento de Arouca, mau grado o longo rol de sucessivas promessas em sucessivas campanhas eleitorais…
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)