21 Nov 2023
Mãe da jovem vítima de abuso desabafa ao Correio de Azeméis
“Mexeu comigo, é normal. Tive de voltar a tomar medicação para dormir, é a minha filha.
Quando se ama um filho, se lhe fazem mal, é como fazerem a nós”, começou por confessar esta mãe, que diz ainda que deixou de ir à igreja, apenas vai “se houver ‘uma obrigação’, como funeral ou uma missa por familiar”, disse ao Correio de Azeméis.
Relata que tem tido crises de ansiedade, e que foi “um choque para nós desde aquele dia em que ela chegou a casa a chorar. A vontade foi de ir atrás dele e acabar com aquela pessoa”, frisou.
“A minha filha foi acompanhada [por um psicólogo], mas eu não. Eu já era uma pessoa depressiva e isto veio agravar”, prosseguiu esta mãe, que acrescentou ainda que sente tristeza no povo de Nogueira do Cravo, “porque a minha filha já deu muito àquela terra, e acho que o povo esquece muito fácil. Preferem acreditar numa pessoa que vem de fora? Onde está o amor dos nogueirenses por uma filha da terra?”, questionou.
“As pessoas perguntam do porquê só agora ser denunciado, há motivos para isso. Ninguém está preparado para que aconteça uma coisa destas. Só quero que esse senhor [Simão Avelino] tenha vergonha na cara e conte toda a verdade”, acusa a mãe da jovem.
“Ainda hoje (no dia em que veio dar o seu testemunho) não resisti em responder a um senhor, só lhe disse: ‘Não devia comentar, porque não conhece a história, nem as pessoas em questão’”, relatou esta mãe, que diz sentir-se revoltada, porque as pessoas estão a julgar nas redes sociais, apenas por ler o primeiro parágrafo da história publicada no jornal Correio de Azeméis.
Mãe deixou um apelo às restantes vítimas
“Tive de voltar a tomar medicação para dormir”
“As pessoas estão a comentar aquilo que não leram, leiam [toda a história!]” O apelo é da mãe da jovem nogueirense a quem o Correio de Azeméis deu voz para denunciar o ato de abuso por parte do antigo pároco de Macinhata da Seixa e Ossela, Pedro Jamba, e que residia em Nogueira do Cravo.
Neste sentido, a sua mãe e a própria jovem, vítima de abuso, vieram ao Correio de Azeméis para relatar o que têm vivido há uma semana, com os comentários que têm ouvido na rua e lido nas redes sociais.
As reações não tardaram a aparecer e os julgamentos também não, desde que a reportagem saiu no Correio de Azeméis na semana passada.
Como já tínhamos dado conta, este tem sido um problema que não tem afetado apenas a sua vida, mas também daqueles que estão à sua volta, principalmente “a minha mãe, que ficou muito doente psicologicamente, com tudo isto”, contou na altura.
Jovem lembrou também os que a apoiaram
“Há comentários miseráveis que nunca vou esquecer”
“Fui lendo os comentários [nas redes sociais] e mexeu com a minha cabeça. Comentários miseráveis, de pessoas que nem fazem ideia aquilo que eu sofri, que os meus sofreram, dos passos que eu dei até chegar a esta fase. E estão ali a comentar, principalmente mulheres coisas deste género, acho lamentável”, desabafou esta jovem ao Correio de Azeméis, que há uma semana se viu confrontada com uma nova realidade desde que a sua história foi publicada.
À semelhança daquilo que a sua mãe apelou, esta jovem deu o recado a todos que “comprem o jornal e leiam o artigo. Não é um título ou uma frase que vai dizer como é a história, não é pela capa que se julga um livro”, referiu revoltada acrescentando “que ninguém tem o direito de me criticar (…). Não há respeito. As pessoas que sabem quem eu sou, se tiverem alguma coisa a dizer que venham ter comigo ou mandem mensagem privada, não comentem simplesmente”, disse.
“Há comentários que nunca vou esquecer, como um senhor que podia ser meu avô comentar algo do género: ‘As beatas querem-se na cama, não é na rua’”, lamentou a jovem que prosseguiu ao dizer que sempre “fui muito reservada com o meu corpo.”
“Quando nós dizemos algo sem conseguirmos entender que aquilo que nós dizemos vai magoar o outro, isto é maldade e grossaria. Se não têm nada para dizer, estejam calados”, rematou a jovem, que disse não se esquecer também “dos muitos comentários a defender-me, a quem eu agradeço do fundo do coração”, concluiu.
Leitores solidarizam-se
Padre Malenga esclareceu
Após a saída desta história na passada edição do Correio de Azeméis, fomos contactados pelo padre José Malenga que esclareceu dois pormenores no relato da história desta jovem. O ex-padre de Nog. Cravo e Fajões confirmou ter ajudado no processo da queixa feita na altura ao Bispo D. Manuel Linda, tendo sido ele o responsável por entregar em mãos o relatório ao bispo auxiliar Vitorino Soares, mas a redação do mesmo foi da “total autoria da jovem”, disse. Ainda nos esclareceu que a sua saída da residência de Nogueira do Cravo, onde moram os padres da Congregação dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette de Angola, para residir em Fajões, “teve a ver com muitas outras razões” e não apenas por este caso em específico.
Um apelo que fica para “todas as vítimas”
Durante o testemunho da mãe desta jovem ao nosso jornal, afirmou saber da existência de mais vítimas e apelou para que “as vítimas dele [Pedro Jamba] se pronunciem, para não sermos só nós, apenas queremos a verdade. A minha filha não é mentirosa, é por isso que estamos aqui.”