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Correio de Azeméis

12 Dec 2025

Os dois últimos párocos de Macinhata

Destaques Exclusivos António Magalhães

O antigo diretor do Correio de Azeméis, António Magalhães, e o atual, Eduardo Costa recordaram os dois padres que deixaram uma marca indelével

>Padre Bastos e padre Reis foram tema central de conversa entre de António Magalhães com Eduardo Costa

Numa emissão carregada de simbolismo na Azeméis TV, o diretor emérito do Correio de Azeméis, Professor António Magalhães, abriu o livro das memórias para homenagear duas figuras tutelares de Macinhata da Seixa. Recordou o Padre Manuel Pires Bastos e o Padre Manuel Pereira Reis, descrevendo-os como os derradeiros exemplos de sacerdotes que viveram, de alma e coração, integrados na sua comunidade.

"Ainda estou vivo!"
Não estava programada esta conversa na Azeméis TV com o anterior diretor, Professor António Magalhães. Contudo, na edição do Correio de Azeméis este havia publicado um artigo, com a sua foto como autor, sobre o falecimento de um vulto de referência do concelho que, por mera coincidência, também se chamava "António".
Os leitores confundiram. Os telefonemas surgiram em catadupa para o próprio e para a sua família, para a redação e para o diretor do jornal. Queriam participar nas cerimónias. "Até o meu irmão que vive em Amarante ligou!", disse o Professor Magalhães entre risos. "Como veem, ainda estou vivo!".
"E com uma cabeça impressionante, que é a nossa memória para o que fazemos no jornal", rematou Eduardo Costa.

 

A conversa partiu de um sentido "dever de gratidão" para com dois homens que, em décadas distintas e com estilos opostos, transformaram a realidade de uma freguesia que, à época, carecia de quase tudo. Segundo António Magalhães, estes foram, na verdadeira aceção da palavra, "os últimos párocos de Macinhata da Seixa", distinguindo-se pelo facto de residirem na terra e partilharem, dia a dia, as dificuldades e as vitórias das suas gentes.
Se o Padre Reis ficou para a história como o homem da obra física, erguendo um Centro Social que parecia impossível, o Padre Bastos foi o arquiteto de futuros, investindo na cultura e na educação dos jovens. "Cada um à sua maneira", sublinhou o professor, deixaram uma marca indelével que o tempo não deve apagar.
Ficam, abaixo, os testemunhos do Professor António Magalhães sobre estas duas personalidades ímpares.

SOBRE O PE. MANUEL PIRES BASTOS    

O investidor de "miolos" "O Padre Bastos era um homem de afetos. Entusiasmava os estudantes a virem para a escola industrial estudar. E às 11 horas da noite, eles ficavam no quarto e ele revolvia Macinhata. (...) O Padre Bastos, se descobrisse um aluno da 4.ª classe que tinha miolos, a fraqueza material não podia ser obstáculo para que não estudasse. Era um homem que entendia que o grande capital são os miolos."

UMA CULTURA INVULGAR  

"Tinha logo a primeira qualidade: era um homem invulgarmente inteligente. O Padre Bastos era um padre atípico (...) formou-se em História, era um historiador, era um pianista, um homem de música. Já no seminário, como aluno, ensaiava peças de teatro. De facto, ele foi um veículo de cultura. A obra dele não tem nada a ver com a do Padre Reis, porque não é palpável. Não deixou pedras ao alto, não deixou paredes, mas deixou isso que não se vê: a promoção cultural de Macinhata e das pessoas."

SOBRE O PE. MANUEL PEREIRA REIS  

O sonho de um louco "Pertence a uma geração de padres que já não existe, quer dizer, já não se fabrica daquilo. Porque o Padre Pereira Reis, com aquela obra social que hoje lá está, que é amparo de crianças (...) quando ele lançou esse sonho, consideravam isso o sonho de um louco. De facto, ninguém diria. (...) Foi uma obra em que ele se empenhou e que teimou e lutou e venceu a adversidade."

DESPRENDIMENTO TOTAL  

"O Padre Reis nunca recebeu um tostão da Oblata. Recebia, mas entregava-o à paróquia. E no folar, aquele dinheiro que as pessoas davam na visita pascal, ele entregou-o sempre à paróquia. (...) Conheço muitos padres que precisam de tudo e que não dão nada a ninguém. Ele era mesmo uma boa alma. (...) Foi a promoção cultural e social do macinhatense."

 

O Padre Reis e Luís Marques Mendes
Da conversa improvisada entre o anterior diretor do Correio de Azeméis, António Magalhães, e o atual diretor, Eduardo Costa, que juntos conduziram meio século deste centenário jornal, surgiu inesperadamente um interessante episódio, revelador da determinação do Padre Manuel Pereira Reis.
Quando concluída a tão aplaudida obra social, o amigo de sempre e companheiro das iniciativas do pároco, Professor Magalhães, falou com Eduardo Costa sobre esta aflição. Este falou com Luís Marques Mendes, então Adjunto do Primeiro-Ministro Cavaco Silva.
Logo se dirigiram a Lisboa, onde foram recebidos com todo o carinho pelo então secretário de Estado da Presidência. "Foi interessante ver a alegria e entusiasmo do Padre Reis quando sentiu que Luís Marques Mendes acolheu a vontade de ajudar!", lembrou Eduardo Costa, perguntando ao proferir Magalhães: "Mas, professor, o dinheiro veio?".
"Sim, nove mil contos!", respondeu o professor. E assim se inaugurou o Centro Social, "ainda hoje uma referência do concelho, tudo graças ao espírito do Padre Manuel Reis", lembrou António Magalhães.
 

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