21 Mar 2022
Eduardo Costa *
É um jovem dentista. Com talento. Requisitado por clínicas de referência. Tem uma especialidade que não há muito no mercado de trabalho. Acumula com a carreira de professor universitário. Marquei uma consulta. “Vou estar em Paris de quarta-feira a sexta”, disse-me. Motivo? “Pagam-me sete mil euros pelos três dias de trabalho!”.
Compreendo perfeitamente. “Um dia vais acabar lá de vez, vais ser emigrante!”, comentei. “Olha que não sei. Só não vou para lá de vez pelo compromisso que tenho com a universidade!” Mais uma vez o motivo é a compensação financeira. “Se assim decidir pagam-me mais de 20 mil euros por mês!” Difícil recusar, de facto.
Segundo especialistas, temos uma boa formação no nosso ensino. Saem das nossas universidades muitos bons profissionais. Muitos dos melhores não resistem aos ganhos no exterior. A “dois passos” daqui, a duas horas de avião, a retribuição multiplica.
Perdemos os melhores. O país investe no ensino para perder os seus jovens para outros países europeus.
Alguém disse, há algum tempo, que íamos ter das gerações mais bem formadas da nossa história e que, com isso, Portugal evoluiria. Assim devia ser. Mas, a realidade está a mostrar que, provavelmente, não vamos beneficiar dessa nova realidade.
De país donde emigrou mão de obra barata, passamos a país de emigração de mão de obra altamente qualificada. Seremos um alfobre de talentos, para outros países.
Seremos, para todo o sempre, um país com o futuro permanentemente adiado? Sem ter, sequer, capacidade para reter os nossos melhores jovens?
* jornalista, presidente da Associação Nacional da Imprensa Regional