Para a história da Feira dos Onze

António Magalhães

Dificilmente saberemos algum dia a data da origem da nossa chamada Feira dos Onze. Os estudiosos informam-nos que a Feira do Santo Amaro, em Estarreja, remonta a 1662, incluída num vasto plano de feiras ordenado pelo Rei D. Afonso VI. Sabendo-se que a nossa Oliveira, então das Terras da Feira, constituía uma espécie de “entreposto” entre o mar e a serra, ser-nos-á permitido, talvez, situar a nossa Feira por essa época.

Mas sabemos que se realizou, durante séculos, numa vasta área adjacente à igreja matriz – o actual templo, que entrou em funções entre 1719 e 1726, foi erguido sobre as ruínas do anterior, cujas origens se desconhecem. Uma vasta área onde decorria toda a actividade da paróquia e da aldeia que éramos então. A feira tinha um enorme movimento, com predominância do negócio de gado. 
A Avenida Dr. Ernesto Pinto Basto nasceria muito depois, assim como o conjunto de casas da família Alegria. Ao lado da matriz encontrava-se a residência paroquial, reconvertida em 1910 na Estação dos CTT, depois Repartição de Finanças, mais tarde Biblioteca Municipal, hoje Serviços Sociais da Câmara. No rés-do-chão recolhia-se a oblata, então maioritariamente em espécie – milho, feijão, até galinhas - e reuniam-se as irmandades e a Junta de Paróquia. O Padre Serafim Sá Couto foi o último residente. Escorraçado, alojou-se na área onde hoje prospera a histórica Casa Mota.  
Contudo, a vastidão da feira seria progressivamente decepada. Há cerca de um século, a Câmara cederia espaço para o quartel dos nossos Bombeiros; logo a seguir para a construção da histórica Escola Industrial, quando Bento Carqueja quis investir na terra que tanto amou o vasto património das disposições testamentárias do benemérito Soares Basto.
Foi tempo, então, de transferir a Feira dos Onze para um vasto espaço da chamada zona do Urgal e muitos dos menos jovens recordam os concursos promovidos pelo Grémio da Lavoura, em que centenas de espécies bovinas e leiteiras acorriam, engalanadas a primor, disputando os então chorudos prémios. Durante curto período a feira realizou-se nos dias onze e vinte e quatro. 
O acentuado declínio da agricultura conduziu ao desaparecimento da Feira e o vasto espaço, que já acolhera a Escola Feminina, albergaria sucessivamente a Junta de Freguesia, Comissão de Melhoramentos e Centro Lúdico, por algum tempo um campo desportivo. O espaço sobejante, urbanizado, presta agora homenagem ao esforçado oliveirense António César Guedes. 
Um apontamento final. 
Soubemos que todos iremos suportar o aumento do custo da recolha dos resíduos. É inevitável. 
Curiosamente, li há dias um aviso da Câmara Municipal, publicado no “Correio de Azeméis” e na “Opinião”, comunicando que a 6 de Janeiro de 1957, “Dia de Reis”, em que praticamente ninguém trabalhava, seriam postos a leilão público os lixos recolhidos nas principais artérias da vila, cuidadosamente acomodados na Feira dos Onze. Leilão anual a que acorriam proprietários agrícolas ou caseiros que, não dispondo de mato, lutavam pela matéria-prima para a confecção dos estrumes com que faziam a terra reproduzir-se em flores e em frutos. Quando não havia campos a monte, quando um palmo de terra era disputado a preço de ouro e os mais minúsculos leirões amanhados cuidadosamente até à berma. 
Outros tempos…
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)

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