Cada dia que passa, confesso, estou mais farta do “politicamente correto”.
Acho que todos os politicamente corretos nascem de exercícios de hipocrisia de pessoas com grandes complexos de superioridade e que precisam de inovações linguísticas para esconder atitudes discriminatórias com as quais convivem mal.
Uma das grandes qualidades da língua portuguesa é a sua riqueza de vocabulário e o facto de ter vocábulos que, só por si, transmitem emoções, ambiências próprias e, simultaneamente, atitudes pessoais de todos os que os usam.
A linguagem “politicamente correta” tem vindo a fazer uma “higienização e assepsia” da língua que a faz perder valor significativo e sentimentos, tornando-a tão fria que a mesma começa a perder identidade e carisma.
Hoje não existem velhos, existem seniores. À partida dir-se-ia que velho e sénior são sinónimos e, do ponto de vista da etimologia da língua, sê-lo-ão, mas o valor e as particularidades de uma língua resultam, não só do seu valor etimológico, mas do uso que dela se faz. Pois bem, olhando deste ponto de vista, velhos e seniores não são sinónimos.
A palavra velho permite o diminutivo masculino, feminino, singular e plural; velhinho, velhinha, velhinhos ou velhinhas. Tal não se conhece em relação à palavra sénior.
Ora, como sabemos e resulta do uso diário da nossa língua, desde tempos imemoriais, o diminutivo de um nome é usado para demonstrar afeto, carinho, proximidade afetiva ou, até mesmo sentimento de proteção e cuidado.
Sénior é um conceito, mais ou menos geral e abstrato, usado para rotular pessoas; os que atingem a idade legal da reforma, os que já não têm aptidões para algumas práticas, os que, por via disso, obtém algumas vantagens económicas que um sistema previdencial, cada vez menos redistributivo e mais cego lhes confere.
Desde pequena, fui educada a respeitar os mais velhos e aconselhada a aprender com eles. Os que atingiram tal idade e me eram próximos, sempre os tratei e senti como velhinhos e também tratei e senti como velhinhos, aqueles que, tendo atingido provecta idade, e eram merecedores de especiais cuidados e atenções.
De mim, espero atingir e preencher o conceito legal de sénior, mas quero chegar a velha e, pelo menos apara alguns, chegar a velhinha.
Dou graças pelo facto de os meus avós, apesar de já cá não estarem, terem morrido velhinhos e vivo com o sentimento amargo de a minha mãe não ter, sequer, chegado a sénior.
* Advogada