22 Jan 2024
Ouvimos a opinião dos arquitetos oliveirenses Carlos Flores e Nelson Castro sobre o assunto
Nos últimos dias foi instalado em frente ao Millenium BCP, na Praceta António José Basto, um posto de carregamento de carros elétricos, o que tem gerado algum descontentamento por parte do público oliveirense. Em causa está o facto de aquele edifício ser uma obra de Siza Vieira, sendo ela considerada uma das maiores obras do arquiteto em questão, sendo até propriedade do MoMA, Museu de Arte de Moderna de Nova Iorque, nos EUA, um dos maiores museus do mundo. Assim, alguns ilustres oliveirenses consideram que colocar ali aquele posto de carregamento é “um atentado ao Belo”.
Tendo sido um dos temas discutidos em reunião de câmara municipal, o vereador do PSD José Campos referiu que, apesar de destacar a medida da colocação positiva, “na nossa opinião, por claro erro na escolha de alguns locais da sua colocação, aquilo que tem alcançado nos últimos dias, acaba por ser uma publicidade negativa e com razão”, apontou o vereador social-democrata, referindo-se ao posto de carregamento instalado na Praceta António José Basto, mas, também em Cucujães “junto à panificação, numa zona de muita afluência de trânsito, também não nos pareceu uma escolha feliz”, prosseguiu o vereador que deixou o apelo para que “no futuro sejam estudados e acautelados de forma mais eficaz a localização destes equipamentos”, finalizou.
Joaquim Jorge, presidente da câmara municipal, explicou que os locais da sua instalação são escolhidos em função “da cobertura geográfica e das condições técnicas que o lugar tem de ter, nomeadamente a disponibilização de média tensão. O que a câmara municipal faz é disponibilizar as imediações de um conjunto de locais onde existe média tensão, informação que nos é dada pela E-Redes. Portanto, depois a empresa escolhe a localização dos postos (…)”, justificou.
Carla Rodrigues, vereadora do PSD, não conformada com a resposta, deixou o alerta que sendo a empresa a escolher o locais de instalação, a mesma “escolhe segundo os seus interesses e não de acordo com os interesses dos oliveirenses e do município, e isso não está correto. Até porque, os únicos dois postos que estão instalados neste momento, o que devia ser uma coisa positiva, tem gerado estas reações, perfeitamente justas. A colocação em frente ao edifício Siza Vieira, aquela zona tinha outras localizações, podia ser no lado oposto da via ou mais à frente”, disse.
Joaquim Jorge respondeu. “Nós temos dado de forma clara mensagens sobre a importância da preservação do nosso património identitário. (...) Se há uma localização que não serve e que foi errada, fazemos, neste caso, como fazemos em relação aos postes de E-redes e às caixas de operadores, dizemos às entidades para as deslocalizarem e para as colocarem num sítio onde não causem transtorno. (...)”, concluiu.
“Eu apenas alertei as pessoas com poder nesta terra para ver o erro que cometeram. Porque eu não posso aceitar que uma instituição como a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, que tem arquitetos e arquitetas, que fazem planeamento, se deem ao luxo de fazer aquela obra, aquela aberração de obra, ou, autorizar a colocação de um equipamento daqueles por uma empresa privada no espaço público. Era possível colocar aquele mesmo aparelho noutro local, sem muito impacto visual, que não chamaria a atenção de ninguém e a câmara em nada seria prejudicada. Podiam colocar ao lado do paquímetro que está na fachada do tribunal, e em frente, metiam os estacionamentos para os carros elétricos, e deixava aquele espaço de envolvente do edifício de Siza Vieira completamente virgem. Não é por acaso que os alunos de muitas arquiteturas a nível da Europa, dos Estados Unidos, até da Ásia, vêm fotografar aquela obra, porque aquela é uma obra icónica. Era uma obra que devia ser preservada por quem responde para o bem-estar do espaço público, do património e do ser humano, que somos nós. Não é uma empresa privada que manda no espaço público. Não manda. (…) Portanto, é um mau exemplo e faço um apelo a que repensem a situação e que deixem de ser tão pequeninos intelectualmente e que reparem aquela situação, para bem de todos.”
Carlos Flores, arquiteto oliveirense
“Eu gostava de começar por saudar a iniciativa da câmara municipal em colocar estes postos de carregamento pela cidade e restante concelho. A preocupação com a descarbonização e políticas ambientais é importante, sendo uma forma de também atrair mais pessoas até Oliveira de Azeméis. [Sobre a colocação do posto de carregamento em frente ao edifício de Siza Vieira] Eu aplicava-lhe o termo de poluição visual em frente àquela obra, porque aquela obra tem muito interesse numa visão global, não é chegar ali e haver um flash, de aparecer uma coluna. Havia mais lugares certamente para colocar aquele posto de carregamento, foram infelizes. Uma pessoa mais distraída esqueceu-se daquela joia de Oliveira de Azeméis, porque não é só o nome, é a obra em si. (…) É de louvar a iniciativa, mas retirem de lá aquilo, porque existem mais locais adequados e funcionais. (…) Tantas pessoas que vêm lá tirar fotografias e não pode aparecer aquele volume poluidor de imagem à frente. (…) Foi dos primeiros trabalhos que ele [Siza Vieira] apresentou, de uma forma muito simples. (…) O projeto foi fantástico, está bem integrado, em termos de luminosidade é fantástico e a orientação não é por acaso. (…) [Sobre a praceta e a passadeira lá existente] Aquela praceta merece ter um certo cuidado, que não seja só um acumular de carros. Há uma coisa que está lá e que deve ser ajustada, que eu já lá vi pessoas a cair, que é a passadeira. Aquela passadeira deveria ser devidamente tratada e requalificada. Devia estar perfeitamente definida, e ao nível do passeio, que não houvesse desnível mais que dois centímetros. E logo a seguir deveria ter dois lugares de estacionamento para pessoas com mobilidade reduzida (…).”
Nelson Castro, arquiteto oliveirense
"Com tristeza partilho um atentado ao património arquitetónico da minha cidade. Um edifício do Arquiteto Siza Vieira considerado pela academia como um “edifício escola”. Ei-lo “premiado” com um novo “adereço” (para não lhe chamar nenhum nome nauseante)."
Helena Terra, advogada