Em
Correio de Azeméis

17 Jan 2023

Praça Maior… ou Praça do Município?

António Magalhães

António Magalhães

Na sessão de 18 de Outubro de 1881, a Câmara Municipal, então presidida pelo Dr. António Simões dos Reis, e com a presença dos vereadores António Ferreira da Costa Pinto, Joaquim Ferreira de Castro e Manuel Soares de Oliveira Cravo (Barão de São João de Loureiro por concessão do rei D. Luís, em 1886), deliberou dar o nome de Largo do Município à praça fronteira aos Paços do Concelho, então bastante mais extensa, conhecida até aí por Largo da Cadeia.

(O nome de Largo da Cadeia provinha do facto de a prisão da comarca, então da responsabilidade da Câmara, funcionar no rés-do-chão, e só os mais velhos poderão recordar os rostos famélicos que, espreitando pelas grades, suspendiam uma lata consumida já pela ferrugem, para que os passantes ali depositassem uma moeda ou um cigarro, com maior êxito aos domingos, dia do mercado no espaço que é hoje a Praça José da Costa. A cadeia comarcã – hoje Escola Superior de Saúde - apenas seria construída em 1942 (?), tempo do presidente Alfredo Andrade, que, não o esqueçamos, traçou os espaços que são, ainda hoje, o coração da cidade.
A esta área chamamos Largo da República. E embora não tenha encontrado qualquer deliberação nos livros de actas, é fácil prever que a designação terá sido atribuída no período subsequente à Revolução de 5 de Outubro, que implantou a República. Quem viveu mais ou menos de perto a época seguinte ao Movimento de 25 de Abril de 1974 conhece a ligeireza com que, nalguns casos, se procedeu ao novo baptismo de ruas e praças, numa precipitação que esteve na origem de graves ultrajes a pessoas que os não mereceriam, cidadãos que apenas cometeram o crime de servir as suas terras o melhor que lhes foi possível.
Quando, há alguns anos, se procedeu à elaboração da toponímia da hoje cidade, sugeri à comissão designada pela Assembleia Municipal a reposição da Praça do Município, transferindo o Largo da República para outro local. Um dos elementos da comissão dir-me-ia que tal decisão poderia magoar algumas sensibilidades. Embora entenda que em Portugal há muito não se coloca a questão do regime, compreendi as reservas.
Os tempos foram passando, e, entretanto, chegou o tempo de baptizar condignamente o vasto espaço da cidade que, por razões conhecidas, era popularmente designado por “Gemini”. Recorde-se que a data de 5 de Janeiro passara já, e acertadamente, a designar uma artéria da cidade.
Vivia-se, então, um generalizado deslumbramento pela recente elevação a cidade. E embora não se podendo nem devendo ignorar os esforços dos que lutaram pela consagração, haverá de recordar que 185 anos antes, em 1799, os oliveirenses tiveram de lutar contra os poderosos senhores das terras da Feira, descendentes, ao que dizem, de Nuno Álvares Pereira, para que lhes fosse concedida a independência, um movimento que, assim escreveu o Visconde de Santa Maria de Arrifana, soçobrara dezenas de anos antes. 
“Derrotados” fomos, então, os que sugerimos a “Praça do Município”, vencendo a “Praça da Cidade”. É a vida… Sou contra a ideia de alterar a toponímia da cidade aos sons da gritaria do momento. De evitar a repetição de não muito distantes barbaridades…
Penso, contudo, poder estar próximo o momento da Praça do Município. Segundo li nestas colunas, foi possível o entendimento entre a Câmara e os proprietários dos espaços conhecidos por “Casa de Bento Carqueja”. Congratulemo-nos com isso. As questões judiciais, por mais legítimas, geram sempre inevitáveis sequelas. Como diz a sabedoria dos povos, “tudo está bem quando acaba bem”.
Fala-se em baptizar o futuro e vasto espaço como “Praça Maior”, uma designação legítima mas talvez demasiado abstracta. 
E se tivéssemos, finalmente, a “Praça do Município”, consagrando a geração dos que, em 1799, içaram o estandarte da independência? 
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)

Partilhar nas redes sociais

Comente Aqui!









Últimas Notícias
Agenda para este sábado, 18 de janeiro
16/01/2025
Já há data para o 17º Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro
16/01/2025
'Mufasa: O Rei Leão' no TeMA
15/01/2025
Centro de Estudos Ferreira de Castro promove 'A Casa de Marreta'
15/01/2025
Instituições do concelho voltam-se a reunir em S. Roque
15/01/2025
AIMA impede Saunders de continuar na Oliveirense
15/01/2025
Criança está desaparecida depois de ter saído da escola
14/01/2025
Trabalhar Para Mudar
14/01/2025