Qual é a velocidade que possibilita o progresso?

Ana Isabel da Costa e Silva

As estradas são ‘desde sempre, uma preocupação transversal em qualquer sociedade, suscitando o interesse quer do simples viajante quer daqueles que têm o poder de enquadrar e governar homens e espaços’1. 
Os espaços dedicados à mobilidade e acessibilidade conferem visibilidade2  e elasticidade3  no seu uso, importantes fatores no desenvolvimento da cidade contemporânea. O convívio de várias formas de deslocação cria condições para a diversidade urbana e dinâmicas de ocupação que devem procurar a complementaridade e integração. 
Se repararmos, muito rapidamente, em, apenas, duas ‘circunstâncias’ que ocorrem ao longo do traçado da antiga EN1, entre São João da Madeira e Oliveira de Azeméis, verifica-se que o nível de interesse e dinamismo em espaços dedicados apenas ao peão é muito inferior ao que se verifica quando existe a possibilidade de atravessamento pelo automóvel. 
Como refere Siza, no texto ‘Navegando através do híbrido das cidades’, ‘as ruas reservadas aos peões agravam os problemas de tráfego e, ao mesmo tempo, torna as ruas mais inseguras durante a noite, provocando a fuga dos habitantes. Basta observar as ruas reservadas a peões na Holanda, por exemplo em Haia, para nos apercebermos deste problema. (...) é indispensável evitar pontos de rutura na continuidade da cidade. 
O troço da antiga EN1, no centro de Oliveira de azeméis, herdeira de um traçado romano onde a preferência pela meia encosta, seguindo a crista militar, assegurava um bom comando sobre o terreno com a vantagem de ver sem ser visto4, teve, ao longo do tempo, alguma dificuldade em estabelecer ligações perpendiculares ao seu traçado com o resto do território urbano. Ao encerrar este troço ao trânsito automóvel criou uma rutura na continuidade da cidade e agravou os movimentos de atravessamento da cidade. 
Insistir na construção ou continuidade de uma ‘via de cintura’ que, como o nome indica, ‘rodeia e aperta’ a zona central, sem olhar verdadeiramente para o troço encerrado ao transito automóvel da antiga EN1, será continuar e construir mais uma ferida a acrescentar a todas as outras que foram sendo construídas ao longo destes últimos tempos. Basta olhar com atenção para o que aconteceu ao território com a construção da Avenida Comendador Aníbal Araújo...
1 PORTUGUÊS, Centro Rodoviário. Das estradas reaes às estradas nacionais. Lisboa: Centro Rodoviário Português, 2002, p.7.
2 SMET, Marcel. “Il nuovo paesaggio delle infraestrutture in Europa”, in Lótus n.º 110. Milano: Electa, 2001, p.116-120. 
3 LA CECLA, Franco. Perdersi. L’uomo senza ambiente. Roma: Laterza, 1996, p.66. 
4 MANTAS, Vasco Gil. A rede viária romana da faixa atlântica. Tese de doutoramento, Coimbra, 1996, p.67. 
 * Arquiteta e docente da  Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, natural e residente  em O. Azeméis
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