21 Mar 2022
Ana Isabel da Costa e Silva *
Bernardo Secchi, no seu artigo ‘Lo spessore della strada’, de 1992, enumera seis pontos que caracterizam os espaços urbanos de mobilidade e conexão, que conduzem, simultaneamente, a uma crescente insatisfação da população relativamente a eles, a saber:
1. Inadequação na resolução de problemas de tráfego rodoviário e de paragem;
2. lugares de contaminação de ruído aéreo e paisagístico;
3. presença de elementos que provocam divisão do espaço urbano, de forma incongruente;
4. lugares de aumento exponencial de potencialidades e possibilidades de edificação;
5. presença de elementos que multiplicam o carácter fragmentário do espaço;
6. elemento que permite a dispersão de origens e destinos e das motivações das deslocações, agudizando problemas que, supostamente, deveria resolver.
Os espaços de mobilidade apresentam-se, por vezes, tão desastrosos quanto à qualidade ambiental, do desenho do espaço público, de sinalização, de iluminação, que contribuem para o desconforto e decadência do espaço público. Como consequência, os habitantes, que ali vivem e que por ali passam, não conseguem estabelecer qualquer sentimento de pertença e afetividade, com carácter positivo. Logo não fomentam o zelo, mas antes a indiferença, o abandono e, por vezes, o vandalismo.
A falta de ‘engenho e arte’ no desenho do espaço público, ou seja, as faltas de elegância, de cuidado, de visibilidade e de referências fazem destes espaços algo que vive em decadência, como se permanecesse, para sempre, numa situação provisória.
Em Oliveira de Azeméis a situação é evidente. Para elencar apenas uma situação, proponho ao leitor uma caminhada entre a Rua Conde Santiago de Lobão, em Santo António, até ao Parque da La Salette, percorrendo a Rua Manuel Alegria. Verifiquem, por favor, a largura dos passeios, o tipo e localização da sinalética, a colocação das paragens de autocarro, o tipo de iluminação, a sua posição e altura, o desenho do passeio e a sua materialização, por sinal, muito variada. Simplesmente, desastroso.
Ao atribuir reduzido valor ao espaço da rua, no que diz respeito à vida social de vizinhança e de contacto, coloca-o sob o domínio, exclusivo, da circulação automóvel. Esta circunstância tem como consequência mais direta o não estabelecimento de ligação visual das habitações unifamiliares com a rua. Atualmente, verifica-se o aumento da altura dos muros que limitam a propriedade privada, na confrontação com o espaço do passeio, algo inexistente nas casas edificadas, por exemplo, nos anos setenta e oitenta. Esta situação, relembrando Jane Jacobs, no seu livro intitulado ‘The Death and Life of Great American Cities’, de 1961, coloca em causa a segurança e o bem-estar de quem percorre os espaços públicos..
* Arquiteta, O. Azeméis
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