20 Nov 2024
> António Magalhães
O Padre Manuel Pires Bastos presidiu à paróquia de Macinhata da Seixa desde o Outono de 1961 ao Outono de 1975. Saiu triste, deixou-nos tristes, mas obediente ao pedido do seu Bispo, a quem se impôs a sucessão ao já cansado abade de São Cristóvão de Ovar.
Sucedia a outro loureirense, seu primo, o Padre Julião Pires Valente, que viria a pastorear longos e profícuos 49 anos as gentes de Paços de Brandão, onde repousa, por sua expressa vontade.
O Padre Bastos viveu com os macinhatenses um longo, profícuo e rico período de catorze anos, impossível de descrever neste espaço.
De entre toda a vasta acção, haveremos de evocar, num primeiro plano, a preocupação com os jovens. Recordemos a cedência de um campo do passal para que jogassem a bola, deixando de o fazer no adro da igreja.
Decisões inesperadas para a época, talvez mesmo provocantes para alguns, discutíveis para os menos jovens, que não raro acusavam o Senhor Abade de preferir a criançada aos mais velhos. A sabedoria aconselhava-o a privilegiar o coração inocente dos mais jovens ao coração empedernido dos já avançados na idade, de mais problemática emenda. Aos jovens, ele não esperava que o procurassem. Partiu sempre ao seu encontro. Longe dos discursos, preferia a linguagem dos simples. As suas palavras, a crentes e não crentes, aos virtuosos, aos falsos virtuosos, aos pecadores, aos poderosos e aos humildes, não lhe saiam da boca, soltavam-se-lhe do coração. E sempre com um sorriso aberto.
Organizou festas com as crianças e os jovens, fez teatro, compôs o hino de Macinhata da Seixa, foi apaixonado servidor do Grupo Musical Macinhatense, taxista em situações de emergência, esquecido muitas vezes dos rogos maternais da também saudosa Senhora Ascensão que o avisava de que a comida já estava fria.
De recordar também a sua presença na hoje Escola Soares Basto, onde a memória é recordada com saudade.
Uma das tristezas que mais apoquentou o Padre Bastos no momento da indesejada despedida foi a impossibilidade de concretizar o sonho da Casa da Criança, génese do nosso Centro Paroquial e Social, que viria a concretizar-se pela vontade inquebrantável do também saudoso Padre Reis. Mas não esqueçamos nunca este seu sonho.
Finalmente, eu queria celebrar o desprendimento do Padre Bastos pelos bens materiais, ele que sempre com muito pouco se contentou. Um desapego que, todos nós, não raro esquecemos, uma renúncia de reconhecida dificuldade até, algumas vezes, na prática dos servidores da Igreja.
A biografia do nosso Padre Manuel Pires Bastos registará que, também ele, tombou, impotentes que foram os homens da ciência perante o vírus.
Modesto foi na vida, modesto quiseram que fosse na morte, impedida a legião infindável de amigos e admiradores de lhe prestar a justa consagração.
Paz à sua alma. Repousa, porque bem a mereceu, na paz dos justos. Saibamos ser dignos do seu legado.
António Magalhães
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)