16 Feb 2025
> António Magalhães
A escritura de constituição de “A Edificadora de Oliveira de Azeméis, Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada”, foi lavrada no dia 31 de Outubro de 1949, no cartório do Dr. Mário Parede Nogueira Ramos, e manuscrita pelo ajudante Afonso Martins Soares da Costa. A instituição constituiria um projecto dinamizador da nossa terra.
O nome escolhido inicialmente foi “Cooperativa de Oliveira de Azeméis”; no entanto, a entidade a quem cabia o registo do título rejeitá-lo-ia perante a existência de um outro organismo nascido entre nós, em 1944, denominado “Cooperativa Agrícola de Oliveira de Azeméis”, mas que só entraria em funcionamento efectivo no dia 15 de Agosto de 1964 - embrião fecundo das pujantes “PROLEITE” e “LACTOGAL”.
João Moreira dos Santos surgiu como o homem forte da arrojada iniciativa, um prestante cidadão que, embora não havendo nascido entre nós, para aqui veio como gerente da “Agência Ford”, então rival da “Garagem Justino”, vivendo apaixonadamente os problemas da nossa vila de então, que amou e serviu como segunda terra sua.
Pode o “Correio de Azeméis” reclamar uma significativa parcela do êxito da aventura. O semanário vivia mais um momento difícil da existência, chegando ao extremo da suspensão, já que, havendo falecido o director, não conseguia um sucessor; aqueles que aceitavam o cargo repudiava-os a Censura, os que eventualmente pudessem merecer as graças dos “homens do lápis vermelho” manifestavam relutância em assumir funções, pois que, considerado o jornal uma voz do “reviralho”, abundava o receio de represálias; e foi então que João Moreira dos Santos - um cidadão independente, impoluto, respeitado por todos e sem quaisquer conotações políticas - não hesitou em dar o passo em frente e satisfazer, assim, as exigências dos censores, rejeitando assistir à agonia de uma já acreditada instituição local.
João Moreira dos Santos servir-se-ia então das colunas do “Correio de Azeméis”, naturalmente com o maior proveito da nossa comunidade, para dar voz ao audacioso projecto, e quem ler as amarelecidas páginas da época fácil lhe é concluir pela colaboração prestada, para mais numa época em que escasseavam as hipóteses de comunicação com as populações.
Para a história fica que a redacção de muitos dos textos publicados, aliás de excelente qualidade, saiu da pena hábil de Joaquim Iglésias Gonçalves, na altura um funcionário superior do Centro Vidreiro, também ele respeitado oliveirense adoptivo.
No dia 15 do mesmo mês de Outubro, ainda no salão dos Bombeiros, tivera lugar uma reunião para aprovação dos estatutos e que elegeu a comissão organizadora: João Moreira dos Santos, Aurélio Pinho Costa, Catolino Dias Pinto, Carlos Osório, Joaquim Iglésias Gonçalves, Manuel Almeida, Dr. Artur Barbosa, Joaquim Conde de Pinho Júnior e João Ramalho (este último, havendo manifestado a sua indisponibilidade, foi substituído por Amândio Lucas).
No dia 10 de Dezembro de 1949, ainda no salão dos Bombeiros, teve lugar a eleição dos primeiros corpos gerentes:
ASSEMBLEIA GERAL - Presidente - Dr. Artur Barbosa; 1.º Secretário - Amândio Lucas; 2.º Secretário - Augusto Santos; suplentes: Dr. Álvaro Landureza, José Lino Pires e João Ramalho. DIRECÇÃO - Presidente - João Moreira dos Santos; Secretário - Catolino Dias Pinto; Tesoureiro - Joaquim Conde de Pinho Júnior; Vogais - Carlos Osório e Aurélio Pinho Costa; suplentes: Hernâni Ladeira Martins, Cesário Conde de Pinho, João Carlos Gomes da Costa, José Maria Pinto e António Abreu Sousa Júnior. CONSELHO FISCAL - Presidente - Joaquim Iglésias Gonçalves; Secretário - Afonso Martins Soares da Costa; Relator - Luís António Lopes Pereira; suplentes - Dr. Amadeu Moreira, Manuel Almeida e Agostinho Ferreira.
A “Edificadora” viveu décadas áureas, muitos foram os que com ela realizaram o almejado sonho da construção do lar. Sucediam-se as inaugurações, todas elas assinaladas com beberete, discursos e notícia em espaço nobre.
As profundas alterações operadas na nova sociedade e as sucessivas inovações na concessão de créditos por parte da banca conduziram ao apagamento da “Edificadora”, à agonia sucedeu a morte.
Não consegui saber onde pára o arquivo. Resultaram vãs todas as tentativas. Dizem-me que sepultado, talvez, com o entulho resultante da demolição da pequena casa, na chamada Rua da Farrapa, onde teve sede por longo período.
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)
António Magalhães