Recuperar o sonho

Helena Terra

Helena Terra *

Na última semana, precisei de ir duas vezes a um hospital privado. Fui como acompanhante e, na segunda ida, estive algum tempo numa sala de espera enorme e de acesso a várias especialidades médicas. Esta minha estadia na dita sala deveu-se, simplesmente ao facto de, naquela altura, não poder entrar com a pessoa que acompanhava por questões de segurança clínica e assepsia do ato a realizar.

Tive tempo para analisar e refletir sobre tudo o que me rodeava. Muitas pessoas, de todas as idades e género e de várias condições socioeconómicas, sendo que estas últimas resultaram, obviamente, de uma análise empírica e apriorística que era a única que eu tinha disponível.
Fiquei aterrada. Todas aquelas pessoas, ali, tinham de significar as fragilidades do Serviço Nacional de Saúde. Os meus defeitos profissionais levaram-me a revisitar a Lei nº 56/79 de 15 de setembro que criou o Serviço Nacional de Saúde. Era Ministro desta tutela um ilustre Advogado de Coimbra, Dr. António Arnaut que, naquele II Governo constitucional, havia sido convidado por Mário Soares para ser Ministro da Justiça, tutela adequadíssima para alguém com a experiência que tinha como Advogado, conhecedor do sistema judicial e das suas inúmeras fragilidades herdadas do Estado Novo.
Mário Soares, depois daquele convite, lê-se no Étimo Perdido (livro da autoria do próprio Dr. António Arnaut), mudou de ideias e convidou-o para um desafio, aceitar a pasta dos assuntos sociais, que compreendia a saúde e a segurança social e que, o próprio convidado achou não estar ao seu alcance cumprir e, por isso, tentou recusar.
Persistente e convincente como poucos, Mário Soares levou o Dr. António Arnaut a aceitar aquilo que, para este, apesar da sua sempre conhecida e reconhecida sensibilidade social, seria uma tarefa Hercúlea. Mas, era a possibilidade de poder concretizar um sonho antigo.  Precisava de um secretário de Estado que tratasse a saúde por tu e esse era, para ele, à data, o Professor Mário Mendes, grande vulto da Medicina e da Academia de Coimbra, médico da área da ginecologia e obstetrícia e que havia sido presidente da Associação Académica de Coimbra em 1948.
Para convencer o Professor Mário Mendes, Arnaut pediu ajuda prévia a Miguel Torga, amigo de ambos, também ele, entre muitas outras coisas, médico da escola de Coimbra.
António Arnaut foi Ministro desta tutela por um, quase acaso, mas, como ele próprio escreveu, não foi um acaso porque foi a realização de um sonho e um ato de vontade. O sonho tornou-se realidade e uma realidade que foi referência em termos europeus, além de ter sido uma das maiores e mais importantes conquistas da era democrática.
Não é possível deixar morrer este sonho que em 1979 se tornou realidade. É imperioso investir no SNS e criar uma rede, sem qualquer tipo de complexo ideológico, aproveitando o que já existe no setor privado, se tal se mostrar mais vantajoso. O SNS é, em paralelo com o ensino público gratuito e de qualidade, uma das armas mais poderosas de combate às desigualdades económicas e sociais.
No passado dia 14 comemoraram-se 234 anos sobre a revolução francesa, marco de conquistas civilizacionais que não podemos perder de vista: liberdade, igualdade e fraternidade.
* Advogada
 

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