14 Mar 2022
Ana Isabel da Costa e Silva *
Ignasi de Solà-Morales Rubió, arquiteto, historiador e filósofo espanhol, afirmou que a configuração das ruas e suas interseções protagonizam, em paralelo com a divisão da propriedade, a forma do território. Numa aproximação morfológica, a edificação, embora presente, poderá surgir em segundo plano1.
Entre fortes dinâmicas de crescimento urbano, atualmente, a rua torna-se uma ligação inadaptada para conferir uma estrutura física forte ao território. Há várias razões para que isso aconteça, nomeadamente a sobrevalorização da intervenção individual, dada a incapacidade dos órgãos municipais para pensar o território de uma forma global, segundo uma estratégia delineada antecipadamente, procurando potenciar o enriquecimento das atividades individuais e, sobretudo, para a conceção coletiva da envolvente urbana, com o objetivo de a partilhar.
A rua, sobretudo em territórios menos centrais da cidade de Oliveira de Azeméis, como é o caso da Rua de Xangai, no Outeiro, foi melhorado, apenas, para o trânsito automóvel. O alcatrão chega e ...apenas isso. Para quem vivia numa moradia cujo acesso sempre foi mal-arranjado, vendo o alcatrão a chegar, até fica muito agradecido. Contudo, há muito por fazer: a iluminação adequada à escala humana, os arranjos exteriores que possam permitir o convívio de outros modos de locomoção, o tratamento das águas pluviais, para que possam ser encaminhadas para campos agrícolas, o cuidado em ter um limite bem desenhado e integrado na confrontação entre a propriedade privada com o espaço público.
Nesse sentido é urgente desenvolver a conceção da rua como um espaço intermediário, como avançou o sociólogo norte-americano Robert Gutman, onde se convoque a tridimensionalidade como um valor para pensar a rua como guia de desenho na relação com os problemas da forma urbana2 .
1 SOLÀ-MORALES, Manuel. Les Formes de Creixement Urbà, Laboratori d’Urbanisme. Barcelona: Edicions UPC, 1993.
2 GUTMAN, Robert. Architecture From the Outside In. Ed. Danna Cuff & John Wriedt. Princeton Architectural Press, New York, 2010.
* Arquiteta, anadacostaesilva@correiodeazemeis.pt