15 Feb 2023
Urb@nidades - Rui Nelson Dinis
Rui Nelson Dinis
As visitas de Papas a Portugal ou a outras partes do mundo, são geralmente saudadas por razões espirituais, mas também pela mobilização que trazem para as pessoas, organizações, autoridades e peregrinos nos países anfitriões. A próxima visita a Portugal do Santo Padre, trará mais de um milhão de jovens de todo o mundo e centenas de milhares de acompanhantes casuais. Os benefícios económicos, diretos e indiretos, são evidentes, mas não a razão única para os justificar.
Todas as visitas papais, por seu lado, geram despesas. Essas despesas são em montantes maiores ou menos, por vezes controversos. Recordo a visita de João Paulo II, que obrigou a reformular quase todos os acessos viários a Fátima, entre outras despesas. Os custos foram então muito elevados e alvo de polémica, mas os acessos estão lá e hoje ninguém imagina como se podiam dispensar.
Queremos e gostamos dos benefícios das visitas. Pela enorme dinamização e quantidade gigantesca de pessoas e atenção que as visitas de um Papa trazem a qualquer país. Mas depois achamos que não devemos assumir nenhum custo, nem aceitamos que quem tem os benefícios deva também ter custos. Somos assim: ”sol na eira e chuva no nabal”. O resto que se dane. Queremos apenas a parte boa, a presença de um Papa popular e largos milhares de jovens de todo o planeta que vão rezar com Francisco, adorar Cristiano e criar memórias de vida, ligadas afetivamente a Portugal. A bandeira e os sentimentos de Portugal vão ser semeados nos seus Países.
Mas daí ao exagero, tudo deve ser temperado e equilibrado. O altar-palco imaginado construir, por mais de quatro milhões de euros, surge desfasado da realidade e não consegue esconder alguma megalomania e despropósito. O Papa não é a Madona. Compreendo que queiram a visita de um Papa galáctico, mas há limites que não devem ser ultrapassados. A ideia de Cristo no caminho da cruz, crivado de espinhos, chicoteado e espancando, a subir ao seu destino de sofrimento, tem pouco ou nada a ver com a imagem de um palco descomunal de vocação superstar. Não surpreende que Francisco não tenha sido tido nem achado, pois se tivesse, prescindiria de tamanha ostentação.
A mesquinhez provinciana e os resquícios de uma certa elite “mata-frades” dão depois consistência a crítica e aos maus-tratos. Uma vez mais, o Portugal pequenino e invejoso, sobressai, em críticas e sátira sobre si próprio. Desta vez, porém, com algum fundamento.
(comente em: dinis.ruinelson@gmail.com)